tag:blogger.com,1999:blog-52838488727336330762024-03-14T05:38:50.003-04:00Enfim, às Letras!Leia, porque ler faz bem. É o que dizem por aí.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-43950041940769094002017-10-09T15:05:00.000-04:002017-10-09T15:14:29.817-04:00Trinta<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: xx-small;">Sem linha fina, porque com essa idade, tá difícil enxergar.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu não me conheço. Você acha que foi fácil pra mim voltar aqui pra escrever um texto e começar logo assim, com uma negativa sobre mim?! Então você também não me conhece. O que não deve ser muita surpresa, já que – acredite, nem eu me conheço.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Há dez anos talvez eu pensasse que dava pra contar nos dedos quantas pessoas realmente me conheciam. Hoje, eu já nem sei se dá pra basear entre os cinco dedos de unhas compridas da minha mão direita. Quatro, porque eu parei de deixar crescer a do mindinho. Sim, isto aqui é um textão com cara de diário fazendo uma reflexão sobre a minha vida. Porra, eu to fazendo 30 anos!</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Fim de um ciclo, começo de outro... nhé. Eu tento a vida inteira não ser clichê. Fica calmo, não é aqui que vou ser. Fica vendo.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O fato é que eu acabei de concluir a terceira década da minha vida e to começando a quarta. Eu comecei isso aqui dizendo que não me conheço. E se parasse por aqui, tava ótimo! Mas não. É exatamente olhar pra isso – três décadas de história – e ver que ainda há tanto pra eu saber. Mesmo quando eu olho pra trás e vejo o tanto de coisa que eu já sei.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Esses dias, vim almoçar ouvindo uma música na Difusora – minha frequência preferida. Me dei conta que não conhecia aquele tema. Em casa, o rádio ligado na Diário – frequência preferida da minha mãe, tocava uma música das antigas. Também percebi que não a conhecia – enquanto minha mãe cantarolava. Pouco depois, a mesma Diário tocou uma música – que eu não conhecia, mas cuja voz parecia ser da Rihanna, portanto, bem atual. Pasme: minha vó de 87 anos tava cantarolando enquanto lavava a louça. Ia saindo pra voltar pro trabalho, o rádio da loja ao lado de casa, sintonizado na Clube – frequência preferida do povão – tocava uma música que, adivinhe, eu também não conhecia.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Aí meus alunos de bateria e violão chegam mostrando “essas músicas daorinha que todo mundo tá curtindo e eu quero aprender a tocar” que eu nunca ouvi e que, se não fosse por eles, nunca ouviria. Por que isso me preocupa? Gente, não precisa me conhecer pra saber que eu sou músico e tenho, na música, a minha principal fonte de renda hoje. Não é desespero, é só uma constatação: eu não conheço muita coisa.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não conheço direito o meu corpo. Tenho trinta anos e, esses dias, fui peidar e me caguei. E meu intestino é algo que eu tenho desde eu nasci! É mole!? Muito! Puro líquido, aliás. Credo.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu imaginava, quando era mais jovem – porque eu ainda me considero jovem – que envelheceria com a cabeleira cheia, grisalha, ouvindo blues, fumando charuto e tomando uísque numa poltrona à meia luz na minha sala de leitura (clichezaço!). Em vez disso, to envelhecendo superobediente à genética, que quis que eu fosse ficando lentamente careca, enquanto poucos fios vão branqueando. Quem conhece minha família, sabe do que eu to falando. O cabelo cumprido é porque eu gosto, mesmo, não pra disfarçar as entradas. A barba cumprida é pra desenhar o rosto, mesmo, não pra parecer mais velho. Não gosto de cumprimentos por rede social no dia de aniversário (nem de dar, nem de receber), porque acho que isso tem que ter calor humano, físico, mesmo. Não que eu queira justificar nada. Mas se você queria saber meus porquês, aí estão.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu não me conheço. Pelo menos, não completamente. Na verdade, sei pouco de mim. Há muito o que saber. Acho que sempre vai ser assim. Há 10 anos, eu tinha certeza que jamais voltaria a dar aula de alguma coisa. E olha eu aqui, escrevendo enquanto minha aluna de violão não chega. Há cinco anos, eu afirmava que nunca seria assessor de imprensa. Quanto menos de político! E fui, por três anos. Há um ano, eu achava que esse blogue não receberia novas publicações. E... o tempo passa, as opiniões mudam e a gente, que achava que se conhecia, se estranha em cada coisa...</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E também não sabem tudo sobre mim aqueles que convivem comigo, meus familiares, minha namorada, meus amigos – nem os mais íntimos, nem os distantes. Muitos deles acham que têm meu mapa. Alguns têm e não sabem. É a vida.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Trinta primaveras. E eu ainda vivo com meus pais. Hm. Que coisa é a vida, não?</span></div>
Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-36643428604905537892016-04-05T18:07:00.002-04:002016-04-05T18:07:59.402-04:00Lunático<div>
<span style="font-size: xx-small;">Escrito há exatos quatro anos, em 5 de abril de 2012, numa época da minha vida em que eu estava confuso e não enxergava da forma como enxergo hoje. Ainda assim, a Lua... ah, a Lua... Leia.</span></div>
<div>
<br /></div>
A Lua, linda, cheia<br />convida o poeta a escrever.<br />"Ve as estrelas que adornam<br />o pano de fundo do meu cenário?<br />Vem tu, também, fazer parte delas."<br />O poeta, pálido com a luz da lua<br />falando às suas bochechas<br />pergunta à rainha da noite.<br />"Que devo fazer eu,<br />tão opaco,<br />para brilhar minha luz<br />e obter a graça<br />de adornar teu céu?"<br />"Escreve sobre mim",<br />responde a astro mestra.<br /><br />O poeta, farto do ego lunar,<br />chuta um pedrisco.<br />"Sequer valorizam o que escrevo<br />à luz do Sol...<br />O que me garante brilhar<br />feito estrela<br />se eu escrever à luz<br />da Lua?"<br /><br />E foi dormir no escuro.<br />E perdeu um belo poema.<br />E abdicou de ser estrela.<br />E acordou sob o Sol<br />achando que ali teria valor um dia.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-17317950260783268482014-07-31T16:01:00.000-04:002014-07-31T16:01:18.793-04:00Sobre o plantio das coisas<span style="font-size: xx-small;">Bom, mesmo, é quando chove.</span><br />
<br />
Quando lhe der vontade de plantar discórdia, pare um pouco e pense. Não seria melhor plantar um pé de fruta? Uma goiabeira! Os periquitos gostam. O cheiro é bom. A flor é linda!... Quem não gosta de goiaba...?<br />
<br />
Que tal, talvez, plantar uma bananeira, daquelas que a gente planta as mãos no chão e joga os pés pra cima...? Ou plantar os pés, mesmo, no chão de terra batida e respirar fundo... ah, como é bom. E se plantar grama, só pra pisar descalço e sentir cócegas?<br />
<br />
Plantar sementes dá frutos. Plantar discórdia dá brutos.<br />
<br />
Plante um sorriso no rosto e ria feito besta. Se não contagiar ninguém, pelo menos vão rir de você -- besta. Mas vão rir.<br />
<br />
Plante o que nunca dá. Se der, a gente colhe. Se não der... bem, já não dava.<br />
<br />
Plante um bom dia nas suas manhãs. Hoje eu fui trabalhar, a pé, e me atrevi a dar bom dia. Parece coceira! Depois do primeiro que te retornam, você não sente mais vontade de parar. Foi tanto bom dia que cheguei ao trabalho sorrindo. Olha só!: plantei bom dia e colhi sorrisos -- os meus e os dos outros. Ah, tem isso, também. Às vezes você planta uma coisa e colhe outra... Só pra testemunhar o vício que me deu, acredite se quiser: no almoço, fui e voltei plantando boa tarde.<br />
<br />
E lembre-se: semear não é plantar. Plantar não é só jogar a semente. É fazer crescer e brotar. Ainda que os frutos não venham. Plante tudo que for bom.<br />
<br />
Quando lhe der vontade de plantar discórdia, plante coisa melhor.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-23300530829556012932013-10-01T13:30:00.000-04:002013-10-01T13:30:36.940-04:00Voltei<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EPAN43-qRAE?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
Estaciona na garagem, desliga o carro, junta as coisas que precisa levar pra dentro de casa. Abre a porta, apeia, fecha a porta com cuidado pra não deixar cair nem chave, nem celular, nem livros, nem bolsa. Aperta o botão do alarme, pega o outro molho, destranca e abre a porta da frente, entra, fecha e tranca a porta da frente, acende a luz da sala, suspira... "Aaaah... voltei."<br />
<br />
Aquele cheiro de lar entra pelas narinas, ativa uma série de coisas boas pelo corpo -- entre elas, aquele aconchego -- e fim. "Agora, sim: livre." Sabe que o conceito de liberdade é relativo. Prefere ser livre com a porta trancada: é a garantia de que nenhum invasor vá barrar esse sorriso. Nem em casa, nem no coração. Despeja no sofá tudo que tinha nos braços, corre pro quarto, tira a roupa. Uma tanga e só. Precisa mais que isso? De portas fechadas, não. Olha pro espelho e canta Ed Motta. "Que bom voltar, de novo encontrar, beijar você, rever você... beijos e abraços sem fim... (...) Você me faz tão feliz!"<br />
<br />
E divaga sobre o verbo... "Quantas vezes eu não deixei de voltar pra seguir em frente? Tantas vezes eu pensei que um caminho reto fosse melhor... Voltar é bom. Dar voltas também, de vez em quando. Bons caminhos têm curvas e voltinhas. Eu tenho curvas! Até o vento faz curvas. Até a água... A Terra é redonda... Que bom voltar."<br />
<br />
Volta pra sala, deita no tapete, sorri. A paz voltou com ela.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-69951276994383063612013-05-21T17:25:00.001-04:002013-05-21T17:25:33.232-04:00Sobre beijos e pescoços<span style="font-size: x-small;">Porque amor é cógito, e sexo é poiesis, já diria Rita Lee.</span><br />
<br />
Com ela, eu gosto devagar<br />
Gosto de vagar por aquele corpo a esmo<br />
Ir mesmo a contragosto<br />
Porque o que a boca não quer<br />
os olhos imploram.<br />
Me agrada divagar sobre aquelas curvas<br />
porque, saberá Deus porquê,<br />
é onde me turva a visão.<br />
E não me sobra paladar para dar a noção<br />
de quantos anos são necessários,<br />
pra nesses olhos eu parar<br />
de me perder.<br />
<br />
E falando em paladar,<br />
ai aquele hálito de canela...<br />
Dica dela que aproveito pra jamais esquecer<br />
"Passei no mercado e comprei balinha"<br />
Já mais apaixonado me deixa<br />
sendo assim.<br />
"Não me deixa nunca, be?"<br />
<br />
Eu não me deixaria deixá-la.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-59433592745346968032013-04-03T13:59:00.001-04:002013-04-03T13:59:10.858-04:00Tem gente que não sabe ser gente<span style="font-size: x-small;">"Você sabe que devia ter ficado mais pra trás, né?"</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">No banco, que tem seis caixas-rápidos mas, dos quais, cinco permitem saque. Apesar disso, hoje, só UM tinha notas (de R$ 10 e R$ 20) pra saque. Um homem, de cerca de 40 anos, usa este único caixa disponível pra retirar dinheiro. Eu entro e começo a esperar pela minha vez. À minha frente, um senhor de prováveis 60 anos - ou pouco mais - é o próximo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Assim que o rapaz termina de usar o caixa, uma senhora entra na agência e, vendo a fila em um único caixa, pergunta o que há com os outros. Eu, como já fiz inúmeras vezes, explico que só um dos caixas tem o serviço de saque disponível, provavelmente pra evitar que a "moda" atual de explodir caixas-rápidos dê muito dinheiro aos "adeptos".</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Naturalmente, conforme o senhor que estava à minha frente ocupou o caixa, eu dei um passo à frente, pro lugar dele. Daí em diante, nada fiz que não fosse admirar o tempo passando, enquanto eu não podia usar o caixa.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Assim que o idoso livrou a boca do atendimento automático, avancei e comecei a usar. Enquanto inseria o cartão, notei que ele se aproximou. Pensei que estivesse checando se não tinha esquecido nada ali, quando ele me apontou o indicador em riste e disse.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">"Você sabe que devia ter ficado mais pra trás, né?"</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Eu, não entendendo, olhei pra trás de mim e vi duas senhoras esperando pelas suas vezes, igual eu estava logo antes. Soltei um "Oi?", querendo saber qual era o motivo da indagação do senhorzinho. Pra isso, ele me respondeu.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">"Cê entendeu muito bem o que eu disse."</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Fiquei atônito. Notei que a indagação era, na verdade, uma acusação! O tiozinho tava insinuando que eu o bisbilhotei enquanto ele fazia o saque dele. oO' Cara... Depois de sair daquela pausa que a Terra deu, eu só consegui responder "Não, eu não entendi do que o senhor tá me acusando", deixando bem claro que eu preferia não acreditar no que ele havia acabado de dizer.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Concordo que, nestes dias, a gente não pode confiar em ninguém. Concordo que o idoso lá provavelmente não me conhecia e, por isso, possa ter desconfiado. Mas sejamos razoáveis. Se eu to desconfiado que alguém teria coragem suficiente pra fazer o que ele insinuou, o que eu faria: guardaria o rosto da pessoa, tentaria descobrir o nome dela e prestaria atenção em qualquer baixa irregular que acontecesse na minha conta.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Por que raios eu acusaria, em público e pessoalmente, uma pessoa que pode ser perigosa?! O que eu ganharia com isso? Fico até agora sem entender o que se passou na cabeça daquele senhor. Por fim, existe uma reflexão que eu preciso fazer: vale a pena me insultar como aquele homem fez? Por sorte dele, ele desconfiou da pessoa errada. Se tivesse feito com a pessoa "certa", definitivamente estaria com motivos pra se preocupar. Por si mesmo, pela família dele, pelo dinheiro dele... Mas quem saiu abalado da situação fui eu. Ai, gente. hehe</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-57100787975921394592013-03-18T17:34:00.000-04:002013-03-18T17:34:19.853-04:00Sonhos destes dias de verão<span style="font-size: x-small;">Não sou do tipo que tem preferência por uma estação ou por outra. Mas gosto de salvar o bom de cada uma.</span><br />
<br />
É quase um sacrilégio curtir uma chuvinha de fim de março sem lembrar Tom e Elis. É um clichê que não se deve impedir. Talvez o único. Vale lembrar: não sou do tipo que guarda preferência pelo verão ou pelo inverno, pela primavera ou pelo outono. Acontece que cada uma tem seus agrados. E, deste verão, o que vai deixar saudade é exatamente esse marco transitório. Vou sentir falta da chuva.<br />
<br />
Normalmente, o que me reserva saudade da estação passada são alguns momentos aleatórios, apenas. Por exemplo: os dias quentes no verão, pra encontrar os amigos e beber algo bem gelado; os dias frios no inverno, pra se aconchegar em casa, seja só ou acompanhado, seja de alguém ou de um bom livro, filme, disco; as brisas quentes das manhãs de primavera, com as revoadas de periquitos entre uma palmeira e outra; ou os dias frescos do outono, praquele bom malbeque. Mas há as chatices de cada temporada, também. A nhaca que dá nos dias de calor, a preguiça de sair da cama nos dias gelados, enfim. Mas a chuva do verão de 2013... ah, a chuva. Ela e seu cheiro...<br />
<br />
Talvez, este tenha sido o verão que mais me trouxe sonhos. E os do fim do verão talvez sejam os mais interessantes. E não falo só dos sonhos durante o sono, não. Foram bons também os sonhos que tive acordado. Os que realizei e os que ficaram no plano da fantasia (e que não vão sair de lá). Os que forjei e os que me vieram inspirados pelo que vi, imaginei, senti. Como aquele em que vi o par de lábios, em forma de barquinho, pintado numa tela... ele ia velejando rumo ao horizonte, se afastando daqui. Engraçado, mas os melhores sonhos eram acompanhados do cheiro da chuva. Se não chovia no momento em que eu sonhava, era logo antes ou logo depois de chover.<br />
<br />
As águas desse março mais abrem o outono que fecham o verão, na verdade. E que me perdoem Tom e Elis, mas acho que é menos doloroso vermos a vida assim. Não sou filósofo, mas me permiti divagar sobre o tempo esses dias. E com o pouco que pensei, cheguei à conclusão de que o problema não é o tempo. O problema somos nós, humanos!<br />
<br />
Veja: o tempo é anterior a nós... é preciso aprender a adaptar-se. Na verdade, o que vale é o instante. Nada começa, nada termina: tudo acontece. Nós temos mania de alongar eventos desde seus acontecimentos até o que pensamos que seja o final. Na verdade, tudo é instantâneo: acaba assim que aconteceu. Até pode acontecer repetidamente, instante após instante. Mas não se deve fundir uma sequência de instantes em UM SÓ instante. Por isso, quando percebemos que algo vai começar, na verdade, já aconteceu. Quando pensamos que está perto do fim, já aconteceu. Nós não sabemos conviver direito com o tempo. No "instante" em que aprendermos essa artimanha, sentir saudade vai doer menos.<br />
<br />
Devaneios à parte, que venha o outono. Ele e todo o resto... E, se São Pedro decidir jogar de cima aquela água temporã, a gente se faz o favor de lembrar.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-37709744044145184702013-02-27T10:27:00.001-04:002013-02-27T10:27:15.204-04:00Jacinto não sentia<span style="font-size: x-small;">Nem o sol saíra, lá estava ele, sob a soleira da porta. Era dia de missa d'alvorada, que ele gostava de dizer assim, com apóstrofo.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
Era finzinho da madrugada de quarta-feira de um verão comum naquele lugar. Chovia quase todo dia, entre o fim da tarde e o início da noite, mas já fazia alguns dias desde que São Pedro decidira pelo estio. Talvez por isso, o céu tivesse aquelas nuvens: vaga promessa de precipitação mais tarde. Bom, o que importa é que aquela manhã era fresca. Tinha uma brisa suave, aconchegante. Beirava o carinho. Mas Jacinto não sentia. Nem o frescor daquela manhã, nem o cafuné do vento.<br />
<br />
Não sentia, mas via. Via que as folhas da jardineirinha, à esquerda da porta da frente, na varanda, balançavam levemente. E como ele era só, fingia que sentia e acabava gostando da suposta maciez com que o ventinho roçava a barba, curta e rala, dele. Chamava o sopro de "zéfiro", embora a primavera já tivesse passado e ele não soubesse se vinha mesmo do oeste. É que ele gostava do mito de Jacinto, que leu quando era novo, intrigado sobre a origem do próprio nome. "É grego!", exclamou quando soube, aos 16. Apaixonou-se por mitologia. Tanto que cultivava jacintos naquela jardineira. Eram azuis, quase iguais ao cabelo dele. (Sabe quando o grisalho fica azulado? Então.) Formou-se em história, mas não exercia. A bem da verdade é que Jacinto deixou de sentir depois da formatura. Não sentia amor, não sentia ódio, não sentia paixão. Nem frio, nem calor, nem medo, nem gosto, nem cheiro, nem sabor. Nem vontades. Nada.<br />
<br />
Foi à missa a pé, ainda sob o breu. Ele não sentia a presença de um Deus, mas precisava manter a vida em comunidade. Afinal, o também grego Aristóteles já havia fundamentado, antes do próprio Cristo, a tese de que "o homem é um animal social". Dava o abraço da paz, mas não sentia o calor humano dos irmãos que abraçava. Comungava, mas não sentia o gosto da hóstia ou do vinho. Numa confissão, certa vez, o padre disse que Jacinto talvez merecesse o céu por tamanho suplício em terra, mas seria um felizardo porque, normalmente, a vontade de pecar vem do sentimento. "Felizardo?! Só me diz qual a próxima penitência, padre."<br />
<br />
Eu não consigo imaginar como Jacinto vivia sem sentir. Dizem que quem perde um dos sentidos acaba aguçando os outros, como forma de suprir a necessidade que ficou. Por isso alguns cegos teriam a audição mais apurada. Eles aprendem a viver com o que lhes falta. Mas como é que se vive sem sentir?! Não dá nem pra dizer que pode ser doloroso, porque nem dor ele sentia.<br />
<br />
Jacinto não fazia a barba pra evitar escoriações ou mutilações. No início, machucou bastante o rosto e o pescoço, que agora a barba cobria. Talvez por isso fosse rala. Quem fazia era o barbeiro, uma vez por mês, barba, cabelo e bigode.<br />
<br />
"Vão em paz e que o Senhor vos acompanhe", disse o padre. "Demos graças a Deus", responderam Jacinto e os que estavam na igreja. Como era de costume, dali ele passaria na padaria e compraria pão. Ele gostava de pão com manteiga e café antes de parar de sentir. E foi um dos únicos hábitos que ele manteve (junto com o de cultivar jacintos na varanda). É que ficou difícil manter uma rotina, quando já não havia prazer no que ele fazia. Mas comprar pão depois da missa era nostálgico -- ele não sentia a nostalgia, mas gostava de lembrar. Tentava resgatar aquilo.<br />
<br />
Chegou em casa, passou o café, sentou no banco da varanda, no alpendre, abriu o jornal, leu as notícias. Lia tudo. Não tinha uma editoria preferida. Lia porque ler construía a história. E não porque fosse o que ele tinha estudado, mas porque era o único modo de manter a memória, afinal o conhecimento, o léxico, o raciocínio de Jacinto substituíam o sentimento e as sensações. Por isso, ao fim do dia, ele relia tudo que havia lido, pra organizar as ideias. Ele era quase uma máquina: não perdia tempo com nada. Só fazia o que tinha que ser feito.<br />
<br />
O almoço, por exemplo. A casa dele era um tanto quanto diferente do lado de dentro. Tinha termômetros e espelhos grandes junto de todos os relógios. E eram dois relógios pra cada cômodo. Assim, ele sabia quando era hora de se alimentar, se a temperatura estava muito baixa, muito alta, se era a hora do banho, ou se ele precisava tomar banho, ainda que fora de hora, enfim. E na hora do almoço começou a chover. Tranquilamente, terminou de comer. Só comia o que o corpo necessitava: um pouco de cada nutriente. Não variava, porque não precisava. Todos os dias, era arroz, feijão, frango grelhado e salada de alface. E água.<br />
<br />
Lembrou que tinha esquecido de regar os jacintos e foi botá-los na chuva. Lá fora, com a jardineira nas mãos, andou até a chuva. Os pingos caiam no braço dele e ele lembrava que a última vez que beijou a única mulher que já tinha amado (e que já o tinha amado) foi numa tarde chuvosa, dias antes da formatura. Isso fora havia mais de 30 anos... mas ele lembrava com tanta vivacidade que poderia descrever a sensação. Mas ele só lembrava: não sentia saudades também. E não conseguia nem sentir raiva por causa disso.<br />
<br />
Foi nessa hora que ele olhou para os jacintos, na chuva, e quase sentiu algo: inveja. Mas também não pôde. Afinal, Jacinto não era um cara triste. Mas também não era um cara feliz. Era um cara que voltaria pra casa, secar aquela água de chuva, pra não ficar doente, ciente de apenas uma coisa: ele não sentia nem que existia.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-90495710712564819522013-02-16T14:34:00.000-03:002013-02-16T14:34:46.327-03:00Pipoca<span style="font-size: x-small;"><i>Um fiozinho de óleo na pipoqueira, uma xícara de milho na pia, boa vontade e um filme interessante pra começar.</i></span><br />
<br />
O cabelo loiro, fino, liso dela desce reto sobre as costas e para ali, no meio. O pijama, branco com detalhes róseos, blusinha e shortinho, e as pantufas nos pés. Não fosse a fome de pipoca, a imagem dela quase não combinaria com o cenário... com a cena. Mas era fofa. É que, antes, fazer pipoca era coisa de mãe... bem antes. Agora era coisa dela.<br />
<br />
Bem melhor que "fazendo" a pipoca, era ela trazendo a pipoca. Uma vasilha arredondada, verde, quase transbordando, que ela abraçava com uma mão na altura da cintura, fina, e com a outra mão, tentava não deixar que caíssem os grãos dali. Quase deu certo... mas feito João e Maria, ela andou da cozinha até a sala deixando um leve rastro. Só pra saber por onde passou. Ainda era fofa.<br />
<br />
No sofá, três lugares. O da ponta esquerda, dela, pra apoiar o braço esquerdo. Os outros dois, pra eu deitar no colo dela. Colo de moça... cafuné de moça. Que filme, que nada. Eram só a pipoca e os olhos cor-de-mel, quase verdes dela. Não eram oblíquos, nem de ressaca -- Machado não falava dela -- mas eram lindos. Ávidos, grandes, lindos. Levemente amendoados... Lindos.<br />
<br />
"Não vai ver o filme?", pergunta, fingindo não entender o que eu tanto olhava. "To vendo", eu, brega. E ela abriu o sorriso dela, que me faz bem. Corou as bochechas e soltou um "bobo", como quem fosse tímida. E eu já nem queria pipoca. Ela, numa manobra, me deu um beijo no nariz e se levantou. Ia pegar o guaraná porque, apesar da noite e da porta da sala aberta, fazia calor.<br />
<br />
E nisso, eu acordei com o sol na cara. Não tinha gosto de pipoca, nem cheiro de colo, nem a memória do tato daquele beijo no nariz. Levantando, na geladeira eu vi que não tinha guaraná. Aliás, não tem há algum tempo. O povo aqui só toma Coca.<br />
<br />
E lá fui eu procurar uma florzinha de mato, daquelas bonitas, pra colher. Talvez, a de um pé de araçá, que não respeitasse o tempo de florir.<br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;">A gente sonha porque pode. E não só quando quer.</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-88333665204153216192013-02-13T17:48:00.000-03:002013-02-13T17:48:01.864-03:00Revisitando vontades<br />
Bom, basta olhar pra notar que passei 2012 sem postar nada por aqui. Também... foi um ano e tanto. Fiz muita coisa... passei por muita coisa. Logo, há muita coisa pra esquecer... muita coisa pra lembrar.<br />
<br />
Mas passou! E daqui pra frente, é vida! É amor! É tempo...<br />
<br />
E quero voltar a dar vida a essas páginas. Com amor... com tempo.<br />
<br />
Sinta-se à vontade pra voltar a me ler.<br />
<br />
"Eita, Cabelo! Você voltou!"<br />
"Voltei. Graças a Deus."<br />
Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-41112522613837695452013-02-13T17:44:00.001-03:002013-02-13T17:50:24.692-03:00Ela (ou Chão de paineira 2)<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">Ela</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">não tem noção de tamanho.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">Só isso explica!</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 18px;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">Chegou feito nuvem</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">e quando eu vi já era lua!</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">Linda, branca, clara como o dia.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 18px;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">Agradável,</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">enluarou a noite preta.</span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: inherit; line-height: 18px;">Deu ao céu sem luz</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">a cor da ternura. Fez-lhe ser</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">ambiente de passeio</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">e poesia.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Deu ao céu sem texto</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">o papel de coadjuvante.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Já não era cenário.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Ela</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">não imaginava o estrago que faria.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">De tão linda,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">até o Sol foi-se avexar.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Por ela, o ocaso não vinha.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">O astro-rei reconheceu:</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">perdi a majestade!</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Por que vou aparecer?,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">se a mim convém também</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">vê-la.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Mas toda lua tem suas fases.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Quando deu-se a nova,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">tudo escureceu de novo.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">O Sol, o céu, as estrelas,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">ninguém a fez voltar.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Nem retomaram seus lugares.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">A falta daquela luz era tanta</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">que tudo ficou sem rumo,</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">sem cor. Sem ser.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;"><br /></span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">Ela</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; line-height: 18px;">mudou e eles</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 18px;">não.</span></span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-47441564367121939822011-10-04T23:32:00.003-04:002011-10-04T23:51:02.773-04:00O gosto da areia<div align="right"><em><span style="font-size:85%;">por Dan Gutierrez</span></em></div><br />O vento sopra o chão de areia quente<br />a nuvem sobe e toma o ar<br />cobre o rosto do eremita que eu sou<br />O lenço protege das vergonhas<br />e dos venenos que eu nunca pôde respirar<br />mas que têm o cheiro que sempre quis sentir<br /><br />Esta atração agora é traição<br />corrói lavouras de sentimentos<br />que a vida plantou e que cresceram por bem<br />É uma chuva ácida que cai<br />desta nuvem, que agora é de gafanhotos<br />de longe, bruma; de perto, farpas de pequi na goela<br /><br />Não há ilusão nos olhos de quem vê<br />o que há é vontade de sentir na pele<br />e ver se passa logo esse vento que lixa<br />A boca, que fecha ao trombonar do vento<br />expressa em reticências o que vai por dentro<br />e tem por fetiche provar um futuro mais doce.<br />O quanto antes.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-54416263004274260902011-08-11T21:03:00.002-04:002011-08-11T21:10:12.727-04:00À nostálgica<div style="text-align: right;"><span style="font-style: italic;">por Dan Gutierrez</span>
<br /></div>
<br />Eu hoje me lembrei da rua dos Preguiças
<br />Daqueles dias de moleque mirim
<br />de pés descalços na sarjeta da ladeira do Itaim,
<br />das correrias pelos becos, galerias,
<br />brincadeiras, gritarias...
<br />Do pique-esconde, o pega-pega,
<br />o pega e beija, escondido do padre
<br />da capelinha amarela...
<br />
<br />Eu vi teus olhos verdes, puxadinhos, de moleca,
<br />esparadrapo no queixo machucado, de sapeca
<br />Você escondida entre os galhos da sibipiruna,
<br />lá do alto, espiando os meninos tomar banho
<br />nos fundos do Itaúna,
<br />o clube que só os mais velhos podiam entrar
<br />e a gente sonhava: o que é aquilo
<br />que solta fumaça no copo do bar?
<br />
<br />Lembra que eu subi no ipê roxo
<br />pra te chamar a atenção?
<br />De tanta inveja dos pelados que você olhava,
<br />desequilibrei e dei com a cara dura no chão.
<br />Você me ouviu despencar
<br />e percebeu que eu te espiava a espiar
<br />E mais que o ipê, você roxeou de vergonha
<br />mas saltou e, num pouso feio, de cegonha,
<br />me ajudou a levantar, e perguntava:
<br />machucou, moleque louco?
<br />Como é que sobe de braço quebrado
<br />em galho oco de ipê?
<br />E eu dizia, feliz com teu afago:
<br />tenho poderes de mago,
<br />e do meu braço quebrado, eu já até esqueci.
<br />Eu só queria ter no meu queixo,
<br />um esparadrapo bonito, como esse
<br />que você tem aí.
<br />
<br />E de queixo ralado, sangrando um pouquinho,
<br />me acheguei do teu lado e sussurrei,
<br />bem baixinho:
<br />mas na falta de outra atadura,
<br />me contento com a tua assanhadura.
<br />E se quiser me dar um beijo,
<br />eu saro do desejo
<br />de ter um queixo igual ao teu.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-51052240082401718322011-06-17T17:09:00.001-04:002011-06-17T17:10:43.174-04:00Da série "O mundo é um ovo"<div align="right"><em>por Daniel Gutierrez</em></div><br />Ah, como eu amo minha profissão.<br /><br /><br /><br />Fui colher duas (sim, só duas) entrevistas, na verdade depoimentos, para o Jornal da Região Sudeste, do amigo e professor Gil Santiago. Ele pediu que eu fosse falar com dois moradores da Ribeirânia sobre o que há de celebrável e o que há de ruim no bairro, nesta semana em que Ribeirão faz 155 anos. Eu deveria também fotografar os entrevistados. Vale lembrar que a Ribeirânia é um bairro de classe média-alta e alta, principalmente habitado por uma população de idade mais avançada. E, devido à vida que tenho levado, conciliando as manhãs no jornal, as tardes na rádio e as noites na faculdade, só me restava procurar entrevistados entre as 18h e as 19h, momento em que está começando a anoitecer.<br /><br /><br /><br />A Ribeirânia, exatamente por ter mais gente abastada, deveria ser um bairro difícil de conseguir esse tipo de depoimento, especialmente neste horário. Pois bem, lá fui eu, esperando ter dificuldades. Aleatoriamente, escolhi uma rua e, novamente, de forma randômica, comecei a escolher as casas. De cinco tentativas, consegui os dois personagens. No primeiro êxito, apareceu à porta uma senhora simpatissíssima: dona Regina Fraga de Almeida. Pedi os depoimentos e ela deu. Depois, tentei uma casa na mesma rua, só que na quadra debaixo e fui recebido, novamente, por outra pessoa de simpatia e afabilidade exemplares (embora detrás do portão, nos dois casos): seu Orlando Octávio de Freitas. Falou comigo e disse que o problema do bairro era, de fato, a falta de segurança. Como eu tinha levado apenas o celular, as fotos não ficaram boas.<br /><br /><br /><br />Voltei hoje para fotografar com uma câmera digna de assim ser chamada e, no batepapo que é característico de nós, jornalistas, acabei descobrindo que dona Regina é amiga de infância e de família de uma tia minha de Guariba. E o assunto surgiu quando falávamos dos porquês da diminuição da segurança, tanto em RP quanto em Pradópolis, minha cidade. O que era pra ser feito em 5 minutos (as fotos), levou meia hora, com um longo e amistoso batepapo sobre laços familiares.<br /><br /><br /><br />Ao sair dali, fui fotografar seo Orlando. A casa estava em reforma e fui recebido pelo servente de pedreiro, um rapaz jovem, talvez com menos de 20 anos, de olhos azuis, cabelo claro. Perguntei se o dono da casa estava, ele disse que sim. Toquei o interfone e, antes do seo Orlando, me cumprimentou seu golden retriever, um cachorro tão afável quanto era grande. E era bem grande. Pra não perder o costume, eu tasquei o batepapo com o proprietário, que apareceu na sacada. Pedi desculpas pelo atraso e expliquei o porquê da demora: havia descoberto uma amiga de infância da tia Tita, que vive em Guariba. Pasmem: o servente era daquela cidade e já tinha tido aulas com minha tia, que é professora de artes e pianista. "O mundo é um ovo ou o quê?" perguntei, enquanto o idoso chegava ao portão.<br /><br /><br /><br />Enfim, tirei a foto, agradeci e apertei a mão do seo Orlando. Me despedi dele e do garoto, que limpava equipamentos de trabalho em frente à casa. E voltei pro campus abobado com mais uma surpresa que meu ofício me guardou.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-51471097355080970082011-05-13T21:40:00.002-04:002011-05-13T21:44:38.148-04:00Ser é<div align="right"><span style="font-size:85%;"><em>por Daniel Gutierrez</em> </span></div><br /><br />Ser é um aturar-se constante.<br />É maturar cada instante<br />de vida,<br />é cauterizar a ferida<br />e dar forma à cicatriz.<br /><br />Ser é querer se tornar<br />plataforma ou altar<br />palco ou tablado de si<br />Um general generoso a gerar<br />caminhos prum dia formar<br />Visconde o que já foi Saci.<br /><br />Ser é esconder-se de si<br />e revelar-se a outrem<br />que perceba alguém<br />que não tem o que encobrir.<br /><br />Ser é nem ter, nem estar<br />nem ver, nem ouvir<br />nem sentir, nem falar.<br />Não, nem pensar.<br />Ser é.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-20138721828209467332011-03-17T21:18:00.002-04:002011-03-17T21:21:24.623-04:00Meu nome é Letra<div style="text-align: right;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">por Daniel Gutierrez</span></span><br /></div><br />Prazer!, meu nome é Letra.<br />Não sou O, nem sou A: sou Letra.<br />Se estou nu, ou vestido de Arial,<br />sigo sendo Letra.<br /><br />Na carta sisuda do patrão<br />visto a touca Times New Roman.<br />No corpo do e-mail pra galera<br />vão falar que sou Verdana.<br />No bilhete da escolinha,<br />me fantasio de Comic Sans.<br />Não sou negrito, itálico, regular...<br />Ora, um homem,<br />seja branco, negro, gordo, feio,<br />não é homem?<br />Eu, sublinhado, sobretachado, vazado ou apagado,<br />sou, portanto, Letra.<br /><br />E não me chame de palavra!,<br />que eu não dependo de ninguém pra ser mim mesmo.<br />Sou Letra e ponto.<br />Ponto não. Nem pingo.<br />Aliás, o pingo no I não é letra, viu?<br />Letra sou eu!<br /><br />Estou aqui, estou aí.<br />Sou melhor até do que a física,<br />porque eu, sim,<br />consigo ocupar o mesmo lugar no espaço que você:<br />estou no seu nome, no seu corpo,<br />na sua fala, na ponta dos seus dedos...<br /><br />Eu sou tão excepcional<br />que até se você me escrever uma carta,<br />eu vou estar lá, no papel.<br />Não me leve a mal, mas sem mim você não vive.<br />Sou nem água, nem ar.<br />E até me permito ser mal usado.<br />Afinal, é aquela coisa:<br />falem bem, falem mal,<br />mas falem de mim.<br />Ou falem do que for.<br />Meu nome é Letra<br />e eu vou estar lá.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-21448687825454106862011-01-20T18:01:00.002-03:002011-01-20T18:05:12.330-03:00Um xis-búrgue compreto e uma esplaite<div align="right"><em><span style="font-size:85%;">por Daniel Gutierrez<br /></span></em></div><p><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">Às vezes penso que seja chatisse de jornalista... Mas acho que você vai me entender depois que ler.</span><br /><br /><br />Segundona braba. Depois de uma manhã inteira (das 6h30 às 12h30) na rádio, chego em casa às 13h35, com um solzão de fritar ovo no asfalto e um rombo no estômago, onde deveria haver um almoço. Alguém aí iria querer alguma coisa além de um bom prato de arroz, feijão e ovo frito fresquinhos, feitos na hora?<br /><br />Tadinha, minha mãe estava lá na área de serviço se matando com a roupa do fim de semana de uma família de 3 homens (hommers) e só ela de dona. Totalmente explicável o fato de não haver almoço pronto. Quando notou que eu tinha chegado, ela ainda disse: "Nany¹, em cima da pia tem daquele macarrão de ontem, que a dona Maria fez e o molho... Na geladeira tem o arroz que sobrou da janta. É só esquentar no microondas". O queixo caiu no chão e eu perguntei: "Macarrão com arroz, mãe?" Ela respondeu "É, filho.", com um tom de voz que por si dizia: "Realmente esperava que eu cozinhasse algo com tudo isso de roupa pra lavar?"<br /><br />Eu entendi a posição da mãe. Corri pra minha carteira, peguei uma nota de 20 e saí em busca de algo pra encher o buraco, que continuava aberto e crescendo. "Acho que o carrinho de lanches do Pelé tá aberto... É lá mesmo que eu vou."<br /><br />Grana no bolso, destino em mente, pé na estrada. Chegando no carrinho, vi que a mulher do Pelé atendia. Ele não estava... Eu prefiro o lanche dele, mas vá lá. Eu: "Sirley, tem muito lanche na frente?" Quando ela disse que não, logo retruquei: "Então me tira um X-Beicom²."<br /><br />Sentei e esperei. Antes que o meu ficasse pronto, outros chegaram e pediram os seus. Quando o meu estava quase pronto, ela perguntou, pra minha infelicidade: "O seu é X-Beicom compreto, né?" Eu olhei... Esperei coisa de uns 5 segundos fitando o olhar de dúvida da moça, que não deve ter mais de 45 anos.<br /><br />Antes que o chacal que há em mim pudesse saltar sobre ela corrigindo: "É COMPLETO, SUA ANTA! COMPLLLLLETO!!", me contive. Fiz que sim com a cabeça e resmunguei: "Aham."<br /><br />Instantes depois, levantei, peguei o sanduba e ataquei. Enquanto comia, inevitavelmente prestava atenção nas pessoas que, ao meu lado, iam pegando seus pedidos. Um rapaz que também ja pegava seu lanche perguntou: "Dona, tem guaraná?" E a Sirley: "Hm... eu vou ter Coca, Fanta, suco..." E pra crucificar a odisséia em que comer um lanche se tornara, ela disse: "E tem esplaite também."<br /><br />O X-Beicom esfriou subitamente na minha boca. A primeira coisa que me veio à mente foi a lata de refrigerante. Pensei: "Será que ela não sabe ler, ou o Sprite escrito na lata só é legível pra mim?" Acho que deve ter doído até no ouvido do moço, porque mal ela terminou de dizer "esplaite" ele já pedia: "Não, pode ser Spraite mesmo". Poxa, ele pronunciou corretamente!<br /><br />Apressei as mastigadas, terminei de comer e paguei logo, antes que eu ouvisse outra pérola... ja tava bom por uma tarde. Enquanto voltava pra casa, pensava nesse assunto, já com vontade de escrever pra você ler, quando pensei comigo: "Gosto de beicom e ambúrguer o lanche tinha... Mas cadê o queijo? Sim, porque se é X (cheese, tradução sonora chula, do inglês pro português) Beicom, deveria ter queijo e beicom. Talvez não tivesse queijo. Poxa, mas tinha até tomate... Mas deixa pra lá.<br /><br />Depois disso cheguei a pensar em fazer uma pesquisa com donos de carrinhos de lanche com a seguinte pergunta: "Por que todos os seus lanches têm X no começo?" Mas nisso eu ja tinha me acalmado, matado a fome, e toda a irritação já não fazia sentido. Mas se eu tiver que jantar, vai ser em casa. Nada de carrinhos de lanche até o fim da semana.<br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">--<br /><br />¹ É um apelido carinhoso de infância, como me chamam em casa.<br /><br />² Nos meus textos, palavras importadas do inglês serão grafadas sempre como são pronunciadas, exceto quando forem nomes ou quando for conveniente escrever na grafia original.</span></p><p><span style="font-size:85%;"></span> </p><p> </p><br /><br /><br />Originalmente postado em http://papodejornalistasdaredacao.blogspot.com/ (8/fev/2010)Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-13763917501767834792011-01-20T14:55:00.001-03:002011-01-21T13:58:40.935-03:00O Ga(...)go<div align="right"><span style="font-size:85%;"><em>por Daniel Gutierrez</em><br /></span></div><br /><br />Depois de uma discussão cansativa, o cara ia falar o seguinte: "Não tem ninguém na chácara, caraio..." Só que ele gaguejava um pouco.<br /><br />Aí ele disse "Não tem ninguém na chácara, cara, cara, cara, cara..." Só parou quando faltou o ar e ele caiu no chão.<br /><br />O problema: ele não conseguia acabar de falar "chácara", ou tava difícil conseguir falar "caraio"? Fica eternamente a dúvida. O cara morreu.Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-13757588522037981542011-01-13T10:56:00.006-03:002011-01-13T11:03:44.509-03:00Pela intentona das AmígdalasE o professor da oficina de produção de textos exortava à sala:<br />– Muito bem, meus queridos! Agora vamos botar nossas amígdalas para trabalhar!<br />– Mas, professor! As amígdalas não escrevem, nem declamam, nem expressam sentimento!<br />– Exatamente por isso! Talvez esteja na hora de elas começarem.<br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">--<br /><br />Já fui assim, fazendo até as amígdalas me inspirarem... Era uma época que eu escrevia quase sem esforço. Hah, hoje em dia, ah, como as coisas mudam...</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-80341727615089281602011-01-07T16:01:00.010-03:002011-02-21T14:50:30.350-04:00Canto de estrada<div align="right"><strong>Prólogo:</strong><em><br />Espere por mim, morena,<br />Espere que eu chego já...<br />O amor por você, morena<br />Faz a saudade me apressar.</em><br /><br /><br /><em><span style="font-size:85%;">por Daniel Gutierrez</span></em></div><div align="right"></div><div align="left"><br /><br /><br />Houve estradas em que ouvi histórias<br />contos do bem e do mal<br />que me trouxeram sonhos e encontros<br />canção, gangorra e final<br /><br />Eiras ou beiras,<br />cantos sem cabeça e pé<br />Armados até os dedos, menina<br />munido de amor e de fé<br /><br />Como um corcel, não sem dono<br />mas louco em saudade a voltar<br />pros braços de ti, criadouro<br />Teu mel, teus braços: altar<br /><br />E vou feito a flecha a Teresa<br />De gozo, de amor e de paz<br />Espere por mm, minha prenda<br />E a lua, que brilhe sagaz.</div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"></div><div align="left"><br /><br /><span style="font-size:78%;">--</span></div><div align="left"><span style="font-size:78%;"></span></div><div align="left"><span style="font-size:78%;">Esse vai ser musicado, talvez ganhe um refrão. Quando estiver pronto, gravo um vídeo e posto aqui. O prólogo, como não dispensasse comentários, é da música "Espere por mim, morena", de Gonzaguinha.</span></div>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-59939833387006474642011-01-06T18:28:00.000-03:002011-01-06T18:29:39.434-03:00Botafogo (Queima)<div align="right"><em><span style="font-size:85%;">por Daniel Gutierrez</span></em></div><br /><br />A saia mais curta<br />o café mais preto<br />a barra da burca<br />e a barca ao relento<br /><br />O talo do cravo<br />a pá de cimento<br />a moça mais bela<br />e o bairro mais gueto<br /><br />O livro mais grosso<br />o jarro mais cheio<br />a barba do moço<br />o risco no meio<br /><br />O quase no nada<br />O fardo alheio<br />a tal rebimboca<br />do engenho ao recreio<br /><br />Morcego ou pardal<br />canino ou felino<br />a arara no pau<br />menina ou menino?<br /><br />A mãe do bebê<br />o arco da velha<br />sem gana ou porquê<br />Veneza ou Marselha<br /><br />Central ou geral<br />real ou banal<br />Carvalho ou Magal<br />good man or outlaw<br /><br />De pano ou metal<br />garboso ou boçal<br />De pedra ou marfim<br />carvão, o nanquim<br />(Se é bom ou ruim)Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-60289445696647150702010-12-29T19:40:00.004-03:002011-01-04T16:31:14.326-03:00Feliz segundo novo!<span style="font-size:78%;">Pra acabar o ano -- instantes antes de entrar no carro e ir pra praia --, talvez a maioria de vocês escreveria um texto falando de renovação, vida nova, algo que tenha a ver com os temas 'ano novo', 'virada', 'retrospectiva' ou coisa assim, né? Bom, eu não sou da maioria e, modéstia a parte, o que vocês têm a ver com isso? hehe Antes de me trucidarem com pensamentos e palavras blasfêmicos, calma... é só brincadeirinha. Mas aí vai meu texto que, na minha opinião, tem tudo a ver com fim de ano.</span><br /><br /><div align="right">Baseado em fatos reais</div><div align="right"><span style="font-size:78%;">(como a maioria das minhas estórias. mas essa faz sentido comentar)</span></div><br /><div align="right"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="right"><em><span style="font-size:85%;">por Daniel Gutierrez</span></em></div><br /><br />19h. Toda a família tratava de acertar os últimos detalhes para a viagem que aconteceria na primeira meia-hora do dia seguinte. Naquele momento era a hora que o vô e a vó costumavam ir pra cama, por isso a mãe bateu à porta do escritório e disse "Téo, vá dar um beijo nos seus avós. Eles já estão pra fechar a porta". Eu: "Já vou."<br /><br />Os velhinhos, perto dos 80, moram na casa da frente. Ele faz radioterapia, contra a tal doença na próstata mas, apesar da carta de lamentações, decorada e declamada todos os dias a quem pare para conversar, é bem humorado toda-a-vida. Ela, o aguenta há quase 60 anos.<br /><br />"Vô, vó... fiquem com Deus, viu? To indo pra praia. Tenham uma boa virada de ano." Ela: "Oh, filho... obrigado! Boa viagem, vão com Deus. Não fossem as dores do seu avô, a gente até iria..." Tudo mentira... é difícil levá-los pra casa do meu tio, que é na cidade vizinha, longe 30 quilômetros... como iriam pra praia, há mais de 400?! Ele: "Não esquece de mandar meu abraço a todo mundo lá, viu? A namorada vai?" "Vai, vô." A vó: "A mãe dela não vai?" "Não, vó. Da família dela, só vai ela."<br /><br />Então o vô puxou o papo que sempre tinha, falou do que fazia pra tapear as dores e passar o tempo. Me levou até o quintal e mostrou as correntinhas, rolos de fio encapado ou não etc. Tudo era resultado de tardes que ele passava "trabalhando" em materiais que qualquer um -- inclusive ele -- trouxesse da rua. E me contou das bengalas que fez com restos de cabos de vassoura e rodinho de banheiro. A vó, sempre querendo roubar um pinguinho da atenção, interrompia nossa conversa, na maioria das vezes sem sucesso, dizendo que aquilo ia longe... e contava sempre com minha resposta: "Deixa, vó". De repente, ela pergunta: "Não vai ninguém da família da sua namorada? Nenhum irmão?" "Não, vó".<br /><br />Hoje o vô repetiu a história do rapaz que o parou na farmácia pra perguntar onde ele havia comprado aquela bengala que usava. Ele: "ieu feiz...", com aquele sotaque arrastado do caipira, filho de espanhol, que cresceu num lugar colonizado por italianos. Segundo o vô, o moço achou o equipamento muito bonito e útil, já que seu pai tinha cerca de 90 anos e mal podia andar sem se apoiar. Outra vez, o patriarca narrou a boa-ação que foi pedir que o homem passasse em casa pra pegar, de graça, uma das cinco ou seis bengalas que ele fizera.<br /><br />Toda vez que vou ali, na casa deles, seja pra tomar café e comer pão, ou pela simples opção de passar pela casa deles quando chego do trabalho, é sempre o mesmo papo do vô, as interrupções da vó e minha atenção gratuita, que parece ser tudo que eles têm. Todo dia.<br /><br />Quando percebi a brecha, ia me despedindo. Pra ser gentil, disse "se cuidem. E o senhor, vô, não vá dar trabalho à vó, hein." Tá, eu gritei isso. Ele não ouve bem. Ele respondeu: "Hoje sua vó disse que ia me visitar." Eu, sabendo a resposta: "onde?" "No velório!... só que ieu ainda nom foi lá." E caimos os três na gargalhada. Eu completei: "olha lá, o dia já tá terminando!..." A vó: "ele não tira essas coisas da boca!" Já saindo, eu disse: "só não vá deixá-la louca!" Ele: "mais?!" Outra gargalhada, um até logo, um vá com Deus, um Deus te abençoe e dois améns.<br /><br />Comigo já na porta da sala, o vô lembrou: "não vai esquecer de mandar meu abraço e feliz ano novo pra todo mundo lá, hein..." "Tá, vô. Tchau." Eu, com toda essa vida pra viver, achei interessante nessa historia que, pra eles, também é ano novo. E um ano novo já gozando com a vida e com a morte!...<br /><br />Afinal, e daí? Todo dia é um novo dia, como não seria cada ano um ano novo? Passar um segundo já é um estigma de mudança, de evolução temporal, pelo menos. Por isso, vamos dar menos importância para datas definidas por convenção e, em vez disso, viver a vida, faz favor?<br /><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">--</span><br /><span style="font-size:78%;"></span><br /><span style="font-size:78%;">Sim, o Téo sou eu.</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-33374837348830538832010-12-20T15:35:00.003-03:002010-12-20T16:21:28.426-03:00Gildo, o suicida arrependido<div align="center"><em><span style="font-size:180%;">IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS</span></em></div><br /><br /><div align="right"><em><span style="font-size:85%;">por Daniel Gutierrez</span></em></div><br /><br />Gildo era um cara pacato: comia arroz com feijão e, quando faltava a farofa, o ovo frito servia; fazia o serviço e, bem ou mal, levava patada do chefe; dava flores e chocolate pra noiva, amava como os homens amam e, se a cor das unhas mudasse de "vermelho terra" pra "marrom argila" sem um "Que lindo" que viesse dele com ar de sinceridade, Gildo voltava pra casa sem um beijo de boa noite.<br /><br />Naquele dia, Gildo acordou decidido: "Vidinha filhadaputa. Vou me matar."<br /><br />Gildo era um cara quieto, mas tinha lá suas sacadas. "Vivi a vida tão certinho... me mato ainda hoje, mas quero ter razões pra ir pro inferno." Foi pro trabalho de carro e sentiu que nada mudava se, em vez de esperar, ele atravessasse o sinal vermelho às 5h20, desde que olhasse os dois lados. Abriu a firma, ligou todas as máquinas e, sozinho, trabalhou como se fosse qualquer dia. Quatro horas depois o chefe chegou e notou a luz de fora ainda acesa: "Gildo! A porra da luz tá acesa!" Ele: "Vai tomar no olho do seu cú, velho brocha, careca, muquirana!" Um breve silêncio e "clique", seu Enaldo apagou a "porra da luz". Saiu pra almoçar na hora do almoço em vez de terminar todo o serviço da manhã antes. Parou pra tomar café e água quantas vezes quis -- três pra cada -- e viu que isto não atrasou o trabalho.<br /><br />No fim do dia, saiu da firma e, em vez de ir pra casa da namorada, passou na avenida, pegou uma puta que parecia ser novinha. Tirou do bolso a nota amassada de 50 reais, lançou nos peitos da moça, tirou o pinto da calça e disse: "Me faz gozar em menos de meia-hora. Não pago mais do que isto."<br /><br />Com as pernas bambas, saiu dali e parou num posto. Comprou cerveja e bebeu. "Trem salgado!..." Lúcido, dirigiu um pouco mais. Parou o carro na frente da casa do ex-colega de escola, aquele que fazia questão de -- sempre -- azucrinar a vida do pobre Gildo. O portão era baixo, se via a janela da sala aberta. Na garrafa, vazia, mijou até mais da metade. Olhou a obra: "molotov de mijo... hehehe". Jogou pra dentro da casa e saiu assim que a ouviu espatifar-se.<br /><br />Parou em frente a uma construção abandonada da cidade. tinha uns oito andares. Saiu do carro, entrou e subiu até onde dava. Lá do alto, parou na borda do chão. Antes de se jogar, pensou e percebeu que aquele dia valera a pena. "Como fui mané... a vida é boa, eu é que não sabia viver!" Desceu do prédio e andou até o carro. Na calçada, um nóia parou e pediu a carteira. "Vai se foder. Não tenho dinheiro."<br /><br />Gildo tomou um tiro e morreu, arrependido por não ter se matado.<br /><br /><br />Moral da história?<br />"E a vida lá tem moral, afinal?"Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-4024421332041113462010-11-24T16:00:00.002-03:002010-11-24T16:03:42.741-03:00A vida é uma rodovia<div align="right"><span style="font-size:85%;"><em>por Daniel Gutierrez</em><br /></span></div><br />Não é a toa que a maioria dos historiadores define a história em linhas do tempo. Nossa vida, que encerra toda uma história, pode ser também estirada assim... Afinal, tem começo, meio e fim, né? Tá certo, às vezes são vários começos, vários fins... Ora, bem como as estradas!<br /><br />Pensa só: uma rodovia que segue seu caminho, de repente chega num trevo... dali surge uma outra estrada, que segue um outro caminho, com outras curvas, outros buracos, outras paradas... Assim é nossa vida: surge de outra vida (dos nossos pais), segue seus caminhos, tem seus problemas, suas mudanças... E viver, então, é guiar por esta estrada.<br /><br />Há momentos da vida, em que a estrada faz curvas. O engraçado é que, na maioria destas “viradas”, a gente nem queria mudar de direção. Mas muda! E ai de nós, se não mudamos... Sair do asfalto é um perigo: a gente pode capotar e voltar pra estrada vai ser muito difícil. Nesses momentos de curva, diminuir a velocidade é interessante, porque aumenta a nossa estabilidade. E tem aqueles buracos chatos também... pra desviar – sem acabar com a suspensão – é preciso reduzir a velocidade, mais uma vez. Tem uns que mais parecem crateras: o negócio é parar e passar bem devagar por cima, ou fazer o contorno por fora. É chato, mas se a gente não faz assim, acaba parado no meio do caminho. E assim não pode ficar...<br /><br />Tem horas que a estrada é duplicada e fica tranqüilo a gente andar... tem horas que ela afina, porque passa numa ponte, sobre um rio, riacho ou ribeirão. Tem uns pontos tão destruídos, que a saída é reformar mesmo... Aí, a companhia de rodagem, que cuida das rodovias, vai encher o trajeto de cones, máquinas, gente trabalhando pra melhorar a situação. Aí, tem horas que o asfalto simplesmente some e sobra aquele terreiro, sem conserto, e você tem que seguir. Vai deslizar? Vai. Vai sujar tudo? Oh, se vai. Mas segue, porque lá na frente o asfalto volta, a sinalização melhora e aí... ah, tudo vai bem.<br /><br />Uma coisa legal sobre estradas é que elas sempre nos levam a algum lugar (mesmo que esse lugar seja “lugar nenhum”). Algumas passam por dentro de povoados, cidades, metrópoles, ou simples postos de beira de estrada. Outras passam por fora. O que muda nossa experiência vital nestas estradas? Ora, a intensidade com a qual você experimenta cada local: em alguns, o envolvimento é tão grande que a gente acaba parando pra curtir melhor o lugar. Mesmo que seja um simples posto de beira de estrada.<br /><br />Em um determinado momento, vai sair de nós um braço de caminho, ou então vamos cruzar outras estradas, que podem gerar outras rodovias, grandes, pequenas, retas, sinuosas, largas, estreitas, tapetões, buraqueiras... São as outras vidas que geramos, ou que participam das nossas vidas: pais, irmãos, filhos, outros familiares, amigos... O importante é seguirmos nossa estrada, que um dia vai acabar, isso é fato. Mas até lá tem tanto asfalto...<br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">Não costumo escrever autoajuda. Mas vai que preciso disso pra viver um dia...</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5283848872733633076.post-490795850165318612010-11-23T15:25:00.004-03:002011-01-10T14:46:00.118-03:00Respeitável frota!...<div style="TEXT-ALIGN: right"><span style="font-size:85%;"><span style="FONT-STYLE: italic">por Daniel Gutierrez</span></span><br /></div><br />“Vai, que fechou,” exclama o mais alto. E corre pro meio da faixa de pedestres. O outro, logo atrás, junta os pinos e o monociclo – que beira um metro e meio de altura, do selim à extremidade da roda. Corre, sobe no negócio com destreza... menos de um segundo e já está equilibrado. Os malabares começam a girar no ar: são três pra cada. Primeiro, os meninos jogam as claves para o alto, sem trocar. Depois, com ar de provocação, como quem quisesse atrapalhar o outro, um deles lança um pino entre os do parceiro, que devolve um dos seus. O ato é repetido, sem que os espectadores demonstrem cansaço. Por fim, os dois pegam as seis claves, levantam os braços, o que estava no monociclo pousa no chão como pluma. Hora do agradecimento, sem aplausos. Todo esse espetáculo dura meio minuto e tem apenas um holofote: a luz vermelha do semáforo.<br /><br />Assim que acaba o show, a platéia se retira, mas não sai por onde entrou: invade e atravessa o picadeiro, que não tem lona, nem cortinas – tem asfalto e faixas no chão. A paga é boa? “Nada... um ou outro motorista joga uma moeda pela janela enquanto a gente tá brincando. No fim do dia, a gente tem uns trocados”, conta Sil, o menor. “Mas dá pra viver”, retruca o outro. “É. Dá.”<br /><br />Da calçada, vê-se dois artistas mostrando suas habilidades – espetáculo digno de estar em cartaz nestes gran-circos que a gente vê por aí. Quem assiste? Os olhos frios, acesos nos faróis de cada veículo. Os rapazes entram, dão show, saem... mas a expressão é sempre a mesma: Gols, Corsas, Unos e tantos outros apreciam, não a arte no sinal, mas a mágica bicromática do semáforo.<br /><br />“Esse povo que vive e trabalha em circo não passa os dias melhor que a gente, não,” garante Sil. “A gente é livre. Só muda de esquina quando o movimento muda de lugar.” Para o mais alto, o circo de rua só inverteu a ordem das coisas: “Lá, eles esperam a cortina abrir. Aqui, a gente espera o sinal fechar.”<br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">Publicado no Jornal do Ônibus de Ribeirão Preto, na edição de novembro de 2010.</span>Dan Gutierrezhttp://www.blogger.com/profile/11737976260357943222noreply@blogger.com0