por Daniel Gutierrez
Era um par de pernas
brancas, finas.
Bom, o que se via era tudo
que havia entre a boca
do sapato (vermelho) e a barra da saia (preta):
tornozelos, canelas, joelhos.
Mas eram lindas
aquelas pernas...
Perfeitas.
A clínica crítica ocular me forçou:
isso é tudo? pernas puras,
perfeitas?
Antes do fim desta auto-indagação
meus olhos procuravam o que ver.
Parou num parêntesis
na outra ponta da saia: a de cima.
O conteúdo daquela observação
era hipnótico.
Na linha de cima,
o ventre era parcialmente visível:
uma fartura – modesta,
mas satisfatória –
moldava a frente de uma cintura
jovem.
Aquela imagem me levou a pensar
no crime que estava prestes a cometer.
(breve instante de razão, que reluziu pouco)
Ainda estupefato com aquele olho
chamado umbigo
me encarando, de lá pra ca
– Naja, Meduza... Maldita!,
sinto o gelo do olhar dos olhos de cima, verdes
que me perceberam contemplando
aquele ventre jovial.
O rosto era fino, claro, inocente,
(Capaz!)
o cabelo liso, solto, preto
Eu, estático.
Ela, uma onça vindo buscar a presa.
Perto,
ela dançava. Eu, não.
Mais perto,
sussurrou: “16”. E mordiscou-me o rosto.
Mas foram só segundos.
Horas depois, lençóis (róseos)
faziam a vez daquela saia (preta).
E, já sem os sapatos,
(As unhas eram laranja.)
aquele par de pernas me era um laço.
E a prima da debutante
fora a mulher pra noite inteira.