segunda-feira, 18 de março de 2013

Sonhos destes dias de verão

Não sou do tipo que tem preferência por uma estação ou por outra. Mas gosto de salvar o bom de cada uma.

É quase um sacrilégio curtir uma chuvinha de fim de março sem lembrar Tom e Elis. É um clichê que não se deve impedir. Talvez o único. Vale lembrar: não sou do tipo que guarda preferência pelo verão ou pelo inverno, pela primavera ou pelo outono. Acontece que cada uma tem seus agrados. E, deste verão, o que vai deixar saudade é exatamente esse marco transitório. Vou sentir falta da chuva.

Normalmente, o que me reserva saudade da estação passada são alguns momentos aleatórios, apenas. Por exemplo: os dias quentes no verão, pra encontrar os amigos e beber algo bem gelado; os dias frios no inverno, pra se aconchegar em casa, seja só ou acompanhado, seja de alguém ou de um bom livro, filme, disco; as brisas quentes das manhãs de primavera, com as revoadas de periquitos entre uma palmeira e outra; ou os dias frescos do outono, praquele bom malbeque. Mas há as chatices de cada temporada, também. A nhaca que dá nos dias de calor, a preguiça de sair da cama nos dias gelados, enfim. Mas a chuva do verão de 2013... ah, a chuva. Ela e seu cheiro...

Talvez, este tenha sido o verão que mais me trouxe sonhos. E os do fim do verão talvez sejam os mais interessantes. E não falo só dos sonhos durante o sono, não. Foram bons também os sonhos que tive acordado. Os que realizei e os que ficaram no plano da fantasia (e que não vão sair de lá). Os que forjei e os que me vieram inspirados pelo que vi, imaginei, senti. Como aquele em que vi o par de lábios, em forma de barquinho, pintado numa tela... ele ia velejando rumo ao horizonte, se afastando daqui. Engraçado, mas os melhores sonhos eram acompanhados do cheiro da chuva. Se não chovia no momento em que eu sonhava, era logo antes ou logo depois de chover.

As águas desse março mais abrem o outono que fecham o verão, na verdade. E que me perdoem Tom e Elis, mas acho que é menos doloroso vermos a vida assim. Não sou filósofo, mas me permiti divagar sobre o tempo esses dias. E com o pouco que pensei, cheguei à conclusão de que o problema não é o tempo. O problema somos nós, humanos!

Veja: o tempo é anterior a nós... é preciso aprender a adaptar-se. Na verdade, o que vale é o instante. Nada começa, nada termina: tudo acontece. Nós temos mania de alongar eventos desde seus acontecimentos até o que pensamos que seja o final. Na verdade, tudo é instantâneo: acaba assim que aconteceu. Até pode acontecer repetidamente, instante após instante. Mas não se deve fundir uma sequência de instantes em UM SÓ instante. Por isso, quando percebemos que algo vai começar, na verdade, já aconteceu. Quando pensamos que está perto do fim, já aconteceu. Nós não sabemos conviver direito com o tempo. No "instante" em que aprendermos essa artimanha, sentir saudade vai doer menos.

Devaneios à parte, que venha o outono. Ele e todo o resto... E, se São Pedro decidir jogar de cima aquela água temporã, a gente se faz o favor de lembrar.