por Daniel Gutierrez
Prazer!, meu nome é Letra.
Não sou O, nem sou A: sou Letra.
Se estou nu, ou vestido de Arial,
sigo sendo Letra.
Na carta sisuda do patrão
visto a touca Times New Roman.
No corpo do e-mail pra galera
vão falar que sou Verdana.
No bilhete da escolinha,
me fantasio de Comic Sans.
Não sou negrito, itálico, regular...
Ora, um homem,
seja branco, negro, gordo, feio,
não é homem?
Eu, sublinhado, sobretachado, vazado ou apagado,
sou, portanto, Letra.
E não me chame de palavra!,
que eu não dependo de ninguém pra ser mim mesmo.
Sou Letra e ponto.
Ponto não. Nem pingo.
Aliás, o pingo no I não é letra, viu?
Letra sou eu!
Estou aqui, estou aí.
Sou melhor até do que a física,
porque eu, sim,
consigo ocupar o mesmo lugar no espaço que você:
estou no seu nome, no seu corpo,
na sua fala, na ponta dos seus dedos...
Eu sou tão excepcional
que até se você me escrever uma carta,
eu vou estar lá, no papel.
Não me leve a mal, mas sem mim você não vive.
Sou nem água, nem ar.
E até me permito ser mal usado.
Afinal, é aquela coisa:
falem bem, falem mal,
mas falem de mim.
Ou falem do que for.
Meu nome é Letra
e eu vou estar lá.