sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da série "O mundo é um ovo"

por Daniel Gutierrez

Ah, como eu amo minha profissão.



Fui colher duas (sim, só duas) entrevistas, na verdade depoimentos, para o Jornal da Região Sudeste, do amigo e professor Gil Santiago. Ele pediu que eu fosse falar com dois moradores da Ribeirânia sobre o que há de celebrável e o que há de ruim no bairro, nesta semana em que Ribeirão faz 155 anos. Eu deveria também fotografar os entrevistados. Vale lembrar que a Ribeirânia é um bairro de classe média-alta e alta, principalmente habitado por uma população de idade mais avançada. E, devido à vida que tenho levado, conciliando as manhãs no jornal, as tardes na rádio e as noites na faculdade, só me restava procurar entrevistados entre as 18h e as 19h, momento em que está começando a anoitecer.



A Ribeirânia, exatamente por ter mais gente abastada, deveria ser um bairro difícil de conseguir esse tipo de depoimento, especialmente neste horário. Pois bem, lá fui eu, esperando ter dificuldades. Aleatoriamente, escolhi uma rua e, novamente, de forma randômica, comecei a escolher as casas. De cinco tentativas, consegui os dois personagens. No primeiro êxito, apareceu à porta uma senhora simpatissíssima: dona Regina Fraga de Almeida. Pedi os depoimentos e ela deu. Depois, tentei uma casa na mesma rua, só que na quadra debaixo e fui recebido, novamente, por outra pessoa de simpatia e afabilidade exemplares (embora detrás do portão, nos dois casos): seu Orlando Octávio de Freitas. Falou comigo e disse que o problema do bairro era, de fato, a falta de segurança. Como eu tinha levado apenas o celular, as fotos não ficaram boas.



Voltei hoje para fotografar com uma câmera digna de assim ser chamada e, no batepapo que é característico de nós, jornalistas, acabei descobrindo que dona Regina é amiga de infância e de família de uma tia minha de Guariba. E o assunto surgiu quando falávamos dos porquês da diminuição da segurança, tanto em RP quanto em Pradópolis, minha cidade. O que era pra ser feito em 5 minutos (as fotos), levou meia hora, com um longo e amistoso batepapo sobre laços familiares.



Ao sair dali, fui fotografar seo Orlando. A casa estava em reforma e fui recebido pelo servente de pedreiro, um rapaz jovem, talvez com menos de 20 anos, de olhos azuis, cabelo claro. Perguntei se o dono da casa estava, ele disse que sim. Toquei o interfone e, antes do seo Orlando, me cumprimentou seu golden retriever, um cachorro tão afável quanto era grande. E era bem grande. Pra não perder o costume, eu tasquei o batepapo com o proprietário, que apareceu na sacada. Pedi desculpas pelo atraso e expliquei o porquê da demora: havia descoberto uma amiga de infância da tia Tita, que vive em Guariba. Pasmem: o servente era daquela cidade e já tinha tido aulas com minha tia, que é professora de artes e pianista. "O mundo é um ovo ou o quê?" perguntei, enquanto o idoso chegava ao portão.



Enfim, tirei a foto, agradeci e apertei a mão do seo Orlando. Me despedi dele e do garoto, que limpava equipamentos de trabalho em frente à casa. E voltei pro campus abobado com mais uma surpresa que meu ofício me guardou.

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