Estaciona na garagem, desliga o carro, junta as coisas que precisa levar pra dentro de casa. Abre a porta, apeia, fecha a porta com cuidado pra não deixar cair nem chave, nem celular, nem livros, nem bolsa. Aperta o botão do alarme, pega o outro molho, destranca e abre a porta da frente, entra, fecha e tranca a porta da frente, acende a luz da sala, suspira... "Aaaah... voltei."
Aquele cheiro de lar entra pelas narinas, ativa uma série de coisas boas pelo corpo -- entre elas, aquele aconchego -- e fim. "Agora, sim: livre." Sabe que o conceito de liberdade é relativo. Prefere ser livre com a porta trancada: é a garantia de que nenhum invasor vá barrar esse sorriso. Nem em casa, nem no coração. Despeja no sofá tudo que tinha nos braços, corre pro quarto, tira a roupa. Uma tanga e só. Precisa mais que isso? De portas fechadas, não. Olha pro espelho e canta Ed Motta. "Que bom voltar, de novo encontrar, beijar você, rever você... beijos e abraços sem fim... (...) Você me faz tão feliz!"
E divaga sobre o verbo... "Quantas vezes eu não deixei de voltar pra seguir em frente? Tantas vezes eu pensei que um caminho reto fosse melhor... Voltar é bom. Dar voltas também, de vez em quando. Bons caminhos têm curvas e voltinhas. Eu tenho curvas! Até o vento faz curvas. Até a água... A Terra é redonda... Que bom voltar."
Volta pra sala, deita no tapete, sorri. A paz voltou com ela.