segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Trinta

Sem linha fina, porque com essa idade, tá difícil enxergar.

Eu não me conheço. Você acha que foi fácil pra mim voltar aqui pra escrever um texto e começar logo assim, com uma negativa sobre mim?! Então você também não me conhece. O que não deve ser muita surpresa, já que – acredite, nem eu me conheço.

Há dez anos talvez eu pensasse que dava pra contar nos dedos quantas pessoas realmente me conheciam. Hoje, eu já nem sei se dá pra basear entre os cinco dedos de unhas compridas da minha mão direita. Quatro, porque eu parei de deixar crescer a do mindinho. Sim, isto aqui é um textão com cara de diário fazendo uma reflexão sobre a minha vida. Porra, eu to fazendo 30 anos!

Fim de um ciclo, começo de outro... nhé. Eu tento a vida inteira não ser clichê. Fica calmo, não é aqui que vou ser. Fica vendo.

O fato é que eu acabei de concluir a terceira década da minha vida e to começando a quarta. Eu comecei isso aqui dizendo que não me conheço. E se parasse por aqui, tava ótimo! Mas não. É exatamente olhar pra isso – três décadas de história – e ver que ainda há tanto pra eu saber. Mesmo quando eu olho pra trás e vejo o tanto de coisa que eu já sei.

Esses dias, vim almoçar ouvindo uma música na Difusora – minha frequência preferida. Me dei conta que não conhecia aquele tema. Em casa, o rádio ligado na Diário – frequência preferida da minha mãe, tocava uma música das antigas. Também percebi que não a conhecia – enquanto minha mãe cantarolava. Pouco depois, a mesma Diário tocou uma música – que eu não conhecia, mas cuja voz parecia ser da Rihanna, portanto, bem atual. Pasme: minha vó de 87 anos tava cantarolando enquanto lavava a louça. Ia saindo pra voltar pro trabalho, o rádio da loja ao lado de casa, sintonizado na Clube – frequência preferida do povão – tocava uma música que, adivinhe, eu também não conhecia.

Aí meus alunos de bateria e violão chegam mostrando “essas músicas daorinha que todo mundo tá curtindo e eu quero aprender a tocar” que eu nunca ouvi e que, se não fosse por eles, nunca ouviria. Por que isso me preocupa? Gente, não precisa me conhecer pra saber que eu sou músico e tenho, na música, a minha principal fonte de renda hoje. Não é desespero, é só uma constatação: eu não conheço muita coisa.

Não conheço direito o meu corpo. Tenho trinta anos e, esses dias, fui peidar e me caguei. E meu intestino é algo que eu tenho desde eu nasci! É mole!? Muito! Puro líquido, aliás. Credo.

Eu imaginava, quando era mais jovem – porque eu ainda me considero jovem – que envelheceria com a cabeleira cheia, grisalha, ouvindo blues, fumando charuto e tomando uísque numa poltrona à meia luz na minha sala de leitura (clichezaço!). Em vez disso, to envelhecendo superobediente à genética, que quis que eu fosse ficando lentamente careca, enquanto poucos fios vão branqueando. Quem conhece minha família, sabe do que eu to falando. O cabelo cumprido é porque eu gosto, mesmo, não pra disfarçar as entradas. A barba cumprida é pra desenhar o rosto, mesmo, não pra parecer mais velho. Não gosto de cumprimentos por rede social no dia de aniversário (nem de dar, nem de receber), porque acho que isso tem que ter calor humano, físico, mesmo. Não que eu queira justificar nada. Mas se você queria saber meus porquês, aí estão.

Eu não me conheço. Pelo menos, não completamente. Na verdade, sei pouco de mim. Há muito o que saber. Acho que sempre vai ser assim. Há 10 anos, eu tinha certeza que jamais voltaria a dar aula de alguma coisa. E olha eu aqui, escrevendo enquanto minha aluna de violão não chega. Há cinco anos, eu afirmava que nunca seria assessor de imprensa. Quanto menos de político! E fui, por três anos. Há um ano, eu achava que esse blogue não receberia novas publicações. E... o tempo passa, as opiniões mudam e a gente, que achava que se conhecia, se estranha em cada coisa...

E também não sabem tudo sobre mim aqueles que convivem comigo, meus familiares, minha namorada, meus amigos – nem os mais íntimos, nem os distantes. Muitos deles acham que têm meu mapa. Alguns têm e não sabem. É a vida.

Trinta primaveras. E eu ainda vivo com meus pais. Hm. Que coisa é a vida, não?

terça-feira, 5 de abril de 2016

Lunático

Escrito há exatos quatro anos, em 5 de abril de 2012, numa época da minha vida em que eu estava confuso e não enxergava da forma como enxergo hoje. Ainda assim, a Lua... ah, a Lua... Leia.

A Lua, linda, cheia
convida o poeta a escrever.
"Ve as estrelas que adornam
o pano de fundo do meu cenário?
Vem tu, também, fazer parte delas."
O poeta, pálido com a luz da lua
falando às suas bochechas
pergunta à rainha da noite.
"Que devo fazer eu,
tão opaco,
para brilhar minha luz
e obter a graça
de adornar teu céu?"
"Escreve sobre mim",
responde a astro mestra.

O poeta, farto do ego lunar,
chuta um pedrisco.
"Sequer valorizam o que escrevo
à luz do Sol...
O que me garante brilhar
feito estrela
se eu escrever à luz
da Lua?"

E foi dormir no escuro.
E perdeu um belo poema.
E abdicou de ser estrela.
E acordou sob o Sol
achando que ali teria valor um dia.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre o plantio das coisas

Bom, mesmo, é quando chove.

Quando lhe der vontade de plantar discórdia, pare um pouco e pense. Não seria melhor plantar um pé de fruta? Uma goiabeira! Os periquitos gostam. O cheiro é bom. A flor é linda!... Quem não gosta de goiaba...?

Que tal, talvez, plantar uma bananeira, daquelas que a gente planta as mãos no chão e joga os pés pra cima...? Ou plantar os pés, mesmo, no chão de terra batida e respirar fundo... ah, como é bom. E se plantar grama, só pra pisar descalço e sentir cócegas?

Plantar sementes dá frutos. Plantar discórdia dá brutos.

Plante um sorriso no rosto e ria feito besta. Se não contagiar ninguém, pelo menos vão rir de você -- besta. Mas vão rir.

Plante o que nunca dá. Se der, a gente colhe. Se não der... bem, já não dava.

Plante um bom dia nas suas manhãs. Hoje eu fui trabalhar, a pé, e me atrevi a dar bom dia. Parece coceira! Depois do primeiro que te retornam, você não sente mais vontade de parar. Foi tanto bom dia que cheguei ao trabalho sorrindo. Olha só!: plantei bom dia e colhi sorrisos -- os meus e os dos outros. Ah, tem isso, também. Às vezes você planta uma coisa e colhe outra... Só pra testemunhar o vício que me deu, acredite se quiser: no almoço, fui e voltei plantando boa tarde.

E lembre-se: semear não é plantar. Plantar não é só jogar a semente. É fazer crescer e brotar. Ainda que os frutos não venham. Plante tudo que for bom.

Quando lhe der vontade de plantar discórdia, plante coisa melhor.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Voltei



Estaciona na garagem, desliga o carro, junta as coisas que precisa levar pra dentro de casa. Abre a porta, apeia, fecha a porta com cuidado pra não deixar cair nem chave, nem celular, nem livros, nem bolsa. Aperta o botão do alarme, pega o outro molho, destranca e abre a porta da frente, entra, fecha e tranca a porta da frente, acende a luz da sala, suspira... "Aaaah... voltei."

Aquele cheiro de lar entra pelas narinas, ativa uma série de coisas boas pelo corpo -- entre elas, aquele aconchego -- e fim. "Agora, sim: livre." Sabe que o conceito de liberdade é relativo. Prefere ser livre com a porta trancada: é a garantia de que nenhum invasor vá barrar esse sorriso. Nem em casa, nem no coração. Despeja no sofá tudo que tinha nos braços, corre pro quarto, tira a roupa. Uma tanga e só. Precisa mais que isso? De portas fechadas, não. Olha pro espelho e canta Ed Motta. "Que bom voltar, de novo encontrar, beijar você, rever você... beijos e abraços sem fim... (...) Você me faz tão feliz!"

E divaga sobre o verbo... "Quantas vezes eu não deixei de voltar pra seguir em frente? Tantas vezes eu pensei que um caminho reto fosse melhor... Voltar é bom. Dar voltas também, de vez em quando. Bons caminhos têm curvas e voltinhas. Eu tenho curvas! Até o vento faz curvas. Até a água... A Terra é redonda... Que bom voltar."

Volta pra sala, deita no tapete, sorri. A paz voltou com ela.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sobre beijos e pescoços

Porque amor é cógito, e sexo é poiesis, já diria Rita Lee.

Com ela, eu gosto devagar
Gosto de vagar por aquele corpo a esmo
Ir mesmo a contragosto
Porque o que a boca não quer
os olhos imploram.
Me agrada divagar sobre aquelas curvas
porque, saberá Deus porquê,
é onde me turva a visão.
E não me sobra paladar para dar a noção
de quantos anos são necessários,
pra nesses olhos eu parar
de me perder.

E falando em paladar,
ai aquele hálito de canela...
Dica dela que aproveito pra jamais esquecer
"Passei no mercado e comprei balinha"
Já mais apaixonado me deixa
sendo assim.
"Não me deixa nunca, be?"

Eu não me deixaria deixá-la.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Tem gente que não sabe ser gente

"Você sabe que devia ter ficado mais pra trás, né?"

No banco, que tem seis caixas-rápidos mas, dos quais, cinco permitem saque. Apesar disso, hoje, só UM tinha notas (de R$ 10 e R$ 20) pra saque. Um homem, de cerca de 40 anos, usa este único caixa disponível pra retirar dinheiro. Eu entro e começo a esperar pela minha vez. À minha frente, um senhor de prováveis 60 anos - ou pouco mais - é o próximo.

Assim que o rapaz termina de usar o caixa, uma senhora entra na agência e, vendo a fila em um único caixa, pergunta o que há com os outros. Eu, como já fiz inúmeras vezes, explico que só um dos caixas tem o serviço de saque disponível, provavelmente pra evitar que a "moda" atual de explodir caixas-rápidos dê muito dinheiro aos "adeptos".

Naturalmente, conforme o senhor que estava à minha frente ocupou o caixa, eu dei um passo à frente, pro lugar dele. Daí em diante, nada fiz que não fosse admirar o tempo passando, enquanto eu não podia usar o caixa.

Assim que o idoso livrou a boca do atendimento automático, avancei e comecei a usar. Enquanto inseria o cartão, notei que ele se aproximou. Pensei que estivesse checando se não tinha esquecido nada ali, quando ele me apontou o indicador em riste e disse.

"Você sabe que devia ter ficado mais pra trás, né?"

Eu, não entendendo, olhei pra trás de mim e vi duas senhoras esperando pelas suas vezes, igual eu estava logo antes. Soltei um "Oi?", querendo saber qual era o motivo da indagação do senhorzinho. Pra isso, ele me respondeu.

"Cê entendeu muito bem o que eu disse."

Fiquei atônito. Notei que a indagação era, na verdade, uma acusação! O tiozinho tava insinuando que eu o bisbilhotei enquanto ele fazia o saque dele. oO' Cara... Depois de sair daquela pausa que a Terra deu, eu só consegui responder "Não, eu não entendi do que o senhor tá me acusando", deixando bem claro que eu preferia não acreditar no que ele havia acabado de dizer.

Concordo que, nestes dias, a gente não pode confiar em ninguém. Concordo que o idoso lá provavelmente não me conhecia e, por isso, possa ter desconfiado. Mas sejamos razoáveis. Se eu to desconfiado que alguém teria coragem suficiente pra fazer o que ele insinuou, o que eu faria: guardaria o rosto da pessoa, tentaria descobrir o nome dela e prestaria atenção em qualquer baixa irregular que acontecesse na minha conta.

Por que raios eu acusaria, em público e pessoalmente, uma pessoa que pode ser perigosa?! O que eu ganharia com isso? Fico até agora sem entender o que se passou na cabeça daquele senhor. Por fim, existe uma reflexão que eu preciso fazer: vale a pena me insultar como aquele homem fez? Por sorte dele, ele desconfiou da pessoa errada. Se tivesse feito com a pessoa "certa", definitivamente estaria com motivos pra se preocupar. Por si mesmo, pela família dele, pelo dinheiro dele... Mas quem saiu abalado da situação fui eu. Ai, gente. hehe

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sonhos destes dias de verão

Não sou do tipo que tem preferência por uma estação ou por outra. Mas gosto de salvar o bom de cada uma.

É quase um sacrilégio curtir uma chuvinha de fim de março sem lembrar Tom e Elis. É um clichê que não se deve impedir. Talvez o único. Vale lembrar: não sou do tipo que guarda preferência pelo verão ou pelo inverno, pela primavera ou pelo outono. Acontece que cada uma tem seus agrados. E, deste verão, o que vai deixar saudade é exatamente esse marco transitório. Vou sentir falta da chuva.

Normalmente, o que me reserva saudade da estação passada são alguns momentos aleatórios, apenas. Por exemplo: os dias quentes no verão, pra encontrar os amigos e beber algo bem gelado; os dias frios no inverno, pra se aconchegar em casa, seja só ou acompanhado, seja de alguém ou de um bom livro, filme, disco; as brisas quentes das manhãs de primavera, com as revoadas de periquitos entre uma palmeira e outra; ou os dias frescos do outono, praquele bom malbeque. Mas há as chatices de cada temporada, também. A nhaca que dá nos dias de calor, a preguiça de sair da cama nos dias gelados, enfim. Mas a chuva do verão de 2013... ah, a chuva. Ela e seu cheiro...

Talvez, este tenha sido o verão que mais me trouxe sonhos. E os do fim do verão talvez sejam os mais interessantes. E não falo só dos sonhos durante o sono, não. Foram bons também os sonhos que tive acordado. Os que realizei e os que ficaram no plano da fantasia (e que não vão sair de lá). Os que forjei e os que me vieram inspirados pelo que vi, imaginei, senti. Como aquele em que vi o par de lábios, em forma de barquinho, pintado numa tela... ele ia velejando rumo ao horizonte, se afastando daqui. Engraçado, mas os melhores sonhos eram acompanhados do cheiro da chuva. Se não chovia no momento em que eu sonhava, era logo antes ou logo depois de chover.

As águas desse março mais abrem o outono que fecham o verão, na verdade. E que me perdoem Tom e Elis, mas acho que é menos doloroso vermos a vida assim. Não sou filósofo, mas me permiti divagar sobre o tempo esses dias. E com o pouco que pensei, cheguei à conclusão de que o problema não é o tempo. O problema somos nós, humanos!

Veja: o tempo é anterior a nós... é preciso aprender a adaptar-se. Na verdade, o que vale é o instante. Nada começa, nada termina: tudo acontece. Nós temos mania de alongar eventos desde seus acontecimentos até o que pensamos que seja o final. Na verdade, tudo é instantâneo: acaba assim que aconteceu. Até pode acontecer repetidamente, instante após instante. Mas não se deve fundir uma sequência de instantes em UM SÓ instante. Por isso, quando percebemos que algo vai começar, na verdade, já aconteceu. Quando pensamos que está perto do fim, já aconteceu. Nós não sabemos conviver direito com o tempo. No "instante" em que aprendermos essa artimanha, sentir saudade vai doer menos.

Devaneios à parte, que venha o outono. Ele e todo o resto... E, se São Pedro decidir jogar de cima aquela água temporã, a gente se faz o favor de lembrar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Jacinto não sentia

Nem o sol saíra, lá estava ele, sob a soleira da porta. Era dia de missa d'alvorada, que ele gostava de dizer assim, com apóstrofo.

Era finzinho da madrugada de quarta-feira de um verão comum naquele lugar. Chovia quase todo dia, entre o fim da tarde e o início da noite, mas já fazia alguns dias desde que São Pedro decidira pelo estio. Talvez por isso, o céu tivesse aquelas nuvens: vaga promessa de precipitação mais tarde. Bom, o que importa é que aquela manhã era fresca. Tinha uma brisa suave, aconchegante. Beirava o carinho. Mas Jacinto não sentia. Nem o frescor daquela manhã, nem o cafuné do vento.

Não sentia, mas via. Via que as folhas da jardineirinha, à esquerda da porta da frente, na varanda, balançavam levemente. E como ele era só, fingia que sentia e acabava gostando da suposta maciez com que o ventinho roçava a barba, curta e rala, dele. Chamava o sopro de "zéfiro", embora a primavera já tivesse passado e ele não soubesse se vinha mesmo do oeste. É que ele gostava do mito de Jacinto, que leu quando era novo, intrigado sobre a origem do próprio nome. "É grego!", exclamou quando soube, aos 16. Apaixonou-se por mitologia. Tanto que cultivava jacintos naquela jardineira. Eram azuis, quase iguais ao cabelo dele. (Sabe quando o grisalho fica azulado? Então.) Formou-se em história, mas não exercia. A bem da verdade é que Jacinto deixou de sentir depois da formatura. Não sentia amor, não sentia ódio, não sentia paixão. Nem frio, nem calor, nem medo, nem gosto, nem cheiro, nem sabor. Nem vontades. Nada.

Foi à missa a pé, ainda sob o breu. Ele não sentia a presença de um Deus, mas precisava manter a vida em comunidade. Afinal, o também grego Aristóteles já havia fundamentado, antes do próprio Cristo, a tese de que "o homem é um animal social". Dava o abraço da paz, mas não sentia o calor humano dos irmãos que abraçava. Comungava, mas não sentia o gosto da hóstia ou do vinho. Numa confissão, certa vez, o padre disse que Jacinto talvez merecesse o céu por tamanho suplício em terra, mas seria um felizardo porque, normalmente, a vontade de pecar vem do sentimento. "Felizardo?! Só me diz qual a próxima penitência, padre."

Eu não consigo imaginar como Jacinto vivia sem sentir. Dizem que quem perde um dos sentidos acaba aguçando os outros, como forma de suprir a necessidade que ficou. Por isso alguns cegos teriam a audição mais apurada. Eles aprendem a viver com o que lhes falta. Mas como é que se vive sem sentir?! Não dá nem pra dizer que pode ser doloroso, porque nem dor ele sentia.

Jacinto não fazia a barba pra evitar escoriações ou mutilações. No início, machucou bastante o rosto e o pescoço, que agora a barba cobria. Talvez por isso fosse rala. Quem fazia era o barbeiro, uma vez por mês, barba, cabelo e bigode.

"Vão em paz e que o Senhor vos acompanhe", disse o padre. "Demos graças a Deus", responderam Jacinto e os que estavam na igreja. Como era de costume, dali ele passaria na padaria e compraria pão. Ele gostava de pão com manteiga e café antes de parar de sentir. E foi um dos únicos hábitos que ele manteve (junto com o de cultivar jacintos na varanda). É que ficou difícil manter uma rotina, quando já não havia prazer no que ele fazia. Mas comprar pão depois da missa era nostálgico -- ele não sentia a nostalgia, mas gostava de lembrar. Tentava resgatar aquilo.

Chegou em casa, passou o café, sentou no banco da varanda, no alpendre, abriu o jornal, leu as notícias. Lia tudo. Não tinha uma editoria preferida. Lia porque ler construía a história. E não porque fosse o que ele tinha estudado, mas porque era o único modo de manter a memória, afinal o conhecimento, o léxico, o raciocínio de Jacinto substituíam o sentimento e as sensações. Por isso, ao fim do dia, ele relia tudo que havia lido, pra organizar as ideias. Ele era quase uma máquina: não perdia tempo com nada. Só fazia o que tinha que ser feito.

O almoço, por exemplo. A casa dele era um tanto quanto diferente do lado de dentro. Tinha termômetros e espelhos grandes junto de todos os relógios. E eram dois relógios pra cada cômodo. Assim, ele sabia quando era hora de se alimentar, se a temperatura estava muito baixa, muito alta, se era a hora do banho, ou se ele precisava tomar banho, ainda que fora de hora, enfim. E na hora do almoço começou a chover. Tranquilamente, terminou de comer. Só comia o que o corpo necessitava: um pouco de cada nutriente. Não variava, porque não precisava. Todos os dias, era arroz, feijão, frango grelhado e salada de alface. E água.

Lembrou que tinha esquecido de regar os jacintos e foi botá-los na chuva. Lá fora, com a jardineira nas mãos, andou até a chuva. Os pingos caiam no braço dele e ele lembrava que a última vez que beijou a única mulher que já tinha amado (e que já o tinha amado) foi numa tarde chuvosa, dias antes da formatura. Isso fora havia mais de 30 anos... mas ele lembrava com tanta vivacidade que poderia descrever a sensação. Mas ele só lembrava: não sentia saudades também. E não conseguia nem sentir raiva por causa disso.

Foi nessa hora que ele olhou para os jacintos, na chuva, e quase sentiu algo: inveja. Mas também não pôde. Afinal, Jacinto não era um cara triste. Mas também não era um cara feliz. Era um cara que voltaria pra casa, secar aquela água de chuva, pra não ficar doente, ciente de apenas uma coisa: ele não sentia nem que existia.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Pipoca

Um fiozinho de óleo na pipoqueira, uma xícara de milho na pia, boa vontade e um filme interessante pra começar.

O cabelo loiro, fino, liso dela desce reto sobre as costas e para ali, no meio. O pijama, branco com detalhes róseos, blusinha e shortinho, e as pantufas nos pés. Não fosse a fome de pipoca, a imagem dela quase não combinaria com o cenário... com a cena. Mas era fofa. É que, antes, fazer pipoca era coisa de mãe... bem antes. Agora era coisa dela.

Bem melhor que "fazendo" a pipoca, era ela trazendo a pipoca. Uma vasilha arredondada, verde, quase transbordando, que ela abraçava com uma mão na altura da cintura, fina, e com a outra mão, tentava não deixar que caíssem os grãos dali. Quase deu certo... mas feito João e Maria, ela andou da cozinha até a sala deixando um leve rastro. Só pra saber por onde passou. Ainda era fofa.

No sofá, três lugares. O da ponta esquerda, dela, pra apoiar o braço esquerdo. Os outros dois, pra eu deitar no colo dela. Colo de moça... cafuné de moça. Que filme, que nada. Eram só a pipoca e os olhos cor-de-mel, quase verdes dela. Não eram oblíquos, nem de ressaca -- Machado não falava dela -- mas eram lindos. Ávidos, grandes, lindos. Levemente amendoados... Lindos.

"Não vai ver o filme?", pergunta, fingindo não entender o que eu tanto olhava. "To vendo", eu, brega. E ela abriu o sorriso dela, que me faz bem. Corou as bochechas e soltou um "bobo", como quem fosse tímida. E eu já nem queria pipoca. Ela, numa manobra, me deu um beijo no nariz e se levantou. Ia pegar o guaraná porque, apesar da noite e da porta da sala aberta, fazia calor.

E nisso, eu acordei com o sol na cara. Não tinha gosto de pipoca, nem cheiro de colo, nem a memória do tato daquele beijo no nariz. Levantando, na geladeira eu vi que não tinha guaraná. Aliás, não tem há algum tempo. O povo aqui só toma Coca.

E lá fui eu procurar uma florzinha de mato, daquelas bonitas, pra colher. Talvez, a de um pé de araçá, que não respeitasse o tempo de florir.

A gente sonha porque pode. E não só quando quer.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Revisitando vontades


Bom, basta olhar pra notar que passei 2012 sem postar nada por aqui. Também... foi um ano e tanto. Fiz muita coisa... passei por muita coisa. Logo, há muita coisa pra esquecer... muita coisa pra lembrar.

Mas passou! E daqui pra frente, é vida! É amor! É tempo...

E quero voltar a dar vida a essas páginas. Com amor... com tempo.

Sinta-se à vontade pra voltar a me ler.

"Eita, Cabelo! Você voltou!"
"Voltei. Graças a Deus."

Ela (ou Chão de paineira 2)

Ela
não tem noção de tamanho.
Só isso explica!

Chegou feito nuvem
e quando eu vi já era lua!
Linda, branca, clara como o dia.

Agradável,
enluarou a noite preta.
Deu ao céu sem luz
a cor da ternura. Fez-lhe ser
ambiente de passeio
e poesia.
Deu ao céu sem texto
o papel de coadjuvante.
Já não era cenário.


Ela
não imaginava o estrago que faria.
De tão linda,
até o Sol foi-se avexar.
Por ela, o ocaso não vinha.
O astro-rei reconheceu:
perdi a majestade!
Por que vou aparecer?,
se a mim convém também
vê-la.


Mas toda lua tem suas fases.
Quando deu-se a nova,
tudo escureceu de novo.
O Sol, o céu, as estrelas,
ninguém a fez voltar.
Nem retomaram seus lugares.
A falta daquela luz era tanta
que tudo ficou sem rumo,
sem cor. Sem ser.


Ela
mudou e eles
não.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O gosto da areia

por Dan Gutierrez

O vento sopra o chão de areia quente
a nuvem sobe e toma o ar
cobre o rosto do eremita que eu sou
O lenço protege das vergonhas
e dos venenos que eu nunca pôde respirar
mas que têm o cheiro que sempre quis sentir

Esta atração agora é traição
corrói lavouras de sentimentos
que a vida plantou e que cresceram por bem
É uma chuva ácida que cai
desta nuvem, que agora é de gafanhotos
de longe, bruma; de perto, farpas de pequi na goela

Não há ilusão nos olhos de quem vê
o que há é vontade de sentir na pele
e ver se passa logo esse vento que lixa
A boca, que fecha ao trombonar do vento
expressa em reticências o que vai por dentro
e tem por fetiche provar um futuro mais doce.
O quanto antes.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

À nostálgica

por Dan Gutierrez

Eu hoje me lembrei da rua dos Preguiças
Daqueles dias de moleque mirim
de pés descalços na sarjeta da ladeira do Itaim,
das correrias pelos becos, galerias,
brincadeiras, gritarias...
Do pique-esconde, o pega-pega,
o pega e beija, escondido do padre
da capelinha amarela...

Eu vi teus olhos verdes, puxadinhos, de moleca,
esparadrapo no queixo machucado, de sapeca
Você escondida entre os galhos da sibipiruna,
lá do alto, espiando os meninos tomar banho
nos fundos do Itaúna,
o clube que só os mais velhos podiam entrar
e a gente sonhava: o que é aquilo
que solta fumaça no copo do bar?

Lembra que eu subi no ipê roxo
pra te chamar a atenção?
De tanta inveja dos pelados que você olhava,
desequilibrei e dei com a cara dura no chão.
Você me ouviu despencar
e percebeu que eu te espiava a espiar
E mais que o ipê, você roxeou de vergonha
mas saltou e, num pouso feio, de cegonha,
me ajudou a levantar, e perguntava:
machucou, moleque louco?
Como é que sobe de braço quebrado
em galho oco de ipê?
E eu dizia, feliz com teu afago:
tenho poderes de mago,
e do meu braço quebrado, eu já até esqueci.
Eu só queria ter no meu queixo,
um esparadrapo bonito, como esse
que você tem aí.

E de queixo ralado, sangrando um pouquinho,
me acheguei do teu lado e sussurrei,
bem baixinho:
mas na falta de outra atadura,
me contento com a tua assanhadura.
E se quiser me dar um beijo,
eu saro do desejo
de ter um queixo igual ao teu.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da série "O mundo é um ovo"

por Daniel Gutierrez

Ah, como eu amo minha profissão.



Fui colher duas (sim, só duas) entrevistas, na verdade depoimentos, para o Jornal da Região Sudeste, do amigo e professor Gil Santiago. Ele pediu que eu fosse falar com dois moradores da Ribeirânia sobre o que há de celebrável e o que há de ruim no bairro, nesta semana em que Ribeirão faz 155 anos. Eu deveria também fotografar os entrevistados. Vale lembrar que a Ribeirânia é um bairro de classe média-alta e alta, principalmente habitado por uma população de idade mais avançada. E, devido à vida que tenho levado, conciliando as manhãs no jornal, as tardes na rádio e as noites na faculdade, só me restava procurar entrevistados entre as 18h e as 19h, momento em que está começando a anoitecer.



A Ribeirânia, exatamente por ter mais gente abastada, deveria ser um bairro difícil de conseguir esse tipo de depoimento, especialmente neste horário. Pois bem, lá fui eu, esperando ter dificuldades. Aleatoriamente, escolhi uma rua e, novamente, de forma randômica, comecei a escolher as casas. De cinco tentativas, consegui os dois personagens. No primeiro êxito, apareceu à porta uma senhora simpatissíssima: dona Regina Fraga de Almeida. Pedi os depoimentos e ela deu. Depois, tentei uma casa na mesma rua, só que na quadra debaixo e fui recebido, novamente, por outra pessoa de simpatia e afabilidade exemplares (embora detrás do portão, nos dois casos): seu Orlando Octávio de Freitas. Falou comigo e disse que o problema do bairro era, de fato, a falta de segurança. Como eu tinha levado apenas o celular, as fotos não ficaram boas.



Voltei hoje para fotografar com uma câmera digna de assim ser chamada e, no batepapo que é característico de nós, jornalistas, acabei descobrindo que dona Regina é amiga de infância e de família de uma tia minha de Guariba. E o assunto surgiu quando falávamos dos porquês da diminuição da segurança, tanto em RP quanto em Pradópolis, minha cidade. O que era pra ser feito em 5 minutos (as fotos), levou meia hora, com um longo e amistoso batepapo sobre laços familiares.



Ao sair dali, fui fotografar seo Orlando. A casa estava em reforma e fui recebido pelo servente de pedreiro, um rapaz jovem, talvez com menos de 20 anos, de olhos azuis, cabelo claro. Perguntei se o dono da casa estava, ele disse que sim. Toquei o interfone e, antes do seo Orlando, me cumprimentou seu golden retriever, um cachorro tão afável quanto era grande. E era bem grande. Pra não perder o costume, eu tasquei o batepapo com o proprietário, que apareceu na sacada. Pedi desculpas pelo atraso e expliquei o porquê da demora: havia descoberto uma amiga de infância da tia Tita, que vive em Guariba. Pasmem: o servente era daquela cidade e já tinha tido aulas com minha tia, que é professora de artes e pianista. "O mundo é um ovo ou o quê?" perguntei, enquanto o idoso chegava ao portão.



Enfim, tirei a foto, agradeci e apertei a mão do seo Orlando. Me despedi dele e do garoto, que limpava equipamentos de trabalho em frente à casa. E voltei pro campus abobado com mais uma surpresa que meu ofício me guardou.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ser é

por Daniel Gutierrez


Ser é um aturar-se constante.
É maturar cada instante
de vida,
é cauterizar a ferida
e dar forma à cicatriz.

Ser é querer se tornar
plataforma ou altar
palco ou tablado de si
Um general generoso a gerar
caminhos prum dia formar
Visconde o que já foi Saci.

Ser é esconder-se de si
e revelar-se a outrem
que perceba alguém
que não tem o que encobrir.

Ser é nem ter, nem estar
nem ver, nem ouvir
nem sentir, nem falar.
Não, nem pensar.
Ser é.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Meu nome é Letra

por Daniel Gutierrez

Prazer!, meu nome é Letra.
Não sou O, nem sou A: sou Letra.
Se estou nu, ou vestido de Arial,
sigo sendo Letra.

Na carta sisuda do patrão
visto a touca Times New Roman.
No corpo do e-mail pra galera
vão falar que sou Verdana.
No bilhete da escolinha,
me fantasio de Comic Sans.
Não sou negrito, itálico, regular...
Ora, um homem,
seja branco, negro, gordo, feio,
não é homem?
Eu, sublinhado, sobretachado, vazado ou apagado,
sou, portanto, Letra.

E não me chame de palavra!,
que eu não dependo de ninguém pra ser mim mesmo.
Sou Letra e ponto.
Ponto não. Nem pingo.
Aliás, o pingo no I não é letra, viu?
Letra sou eu!

Estou aqui, estou aí.
Sou melhor até do que a física,
porque eu, sim,
consigo ocupar o mesmo lugar no espaço que você:
estou no seu nome, no seu corpo,
na sua fala, na ponta dos seus dedos...

Eu sou tão excepcional
que até se você me escrever uma carta,
eu vou estar lá, no papel.
Não me leve a mal, mas sem mim você não vive.
Sou nem água, nem ar.
E até me permito ser mal usado.
Afinal, é aquela coisa:
falem bem, falem mal,
mas falem de mim.
Ou falem do que for.
Meu nome é Letra
e eu vou estar lá.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um xis-búrgue compreto e uma esplaite

por Daniel Gutierrez




Às vezes penso que seja chatisse de jornalista... Mas acho que você vai me entender depois que ler.


Segundona braba. Depois de uma manhã inteira (das 6h30 às 12h30) na rádio, chego em casa às 13h35, com um solzão de fritar ovo no asfalto e um rombo no estômago, onde deveria haver um almoço. Alguém aí iria querer alguma coisa além de um bom prato de arroz, feijão e ovo frito fresquinhos, feitos na hora?

Tadinha, minha mãe estava lá na área de serviço se matando com a roupa do fim de semana de uma família de 3 homens (hommers) e só ela de dona. Totalmente explicável o fato de não haver almoço pronto. Quando notou que eu tinha chegado, ela ainda disse: "Nany¹, em cima da pia tem daquele macarrão de ontem, que a dona Maria fez e o molho... Na geladeira tem o arroz que sobrou da janta. É só esquentar no microondas". O queixo caiu no chão e eu perguntei: "Macarrão com arroz, mãe?" Ela respondeu "É, filho.", com um tom de voz que por si dizia: "Realmente esperava que eu cozinhasse algo com tudo isso de roupa pra lavar?"

Eu entendi a posição da mãe. Corri pra minha carteira, peguei uma nota de 20 e saí em busca de algo pra encher o buraco, que continuava aberto e crescendo. "Acho que o carrinho de lanches do Pelé tá aberto... É lá mesmo que eu vou."

Grana no bolso, destino em mente, pé na estrada. Chegando no carrinho, vi que a mulher do Pelé atendia. Ele não estava... Eu prefiro o lanche dele, mas vá lá. Eu: "Sirley, tem muito lanche na frente?" Quando ela disse que não, logo retruquei: "Então me tira um X-Beicom²."

Sentei e esperei. Antes que o meu ficasse pronto, outros chegaram e pediram os seus. Quando o meu estava quase pronto, ela perguntou, pra minha infelicidade: "O seu é X-Beicom compreto, né?" Eu olhei... Esperei coisa de uns 5 segundos fitando o olhar de dúvida da moça, que não deve ter mais de 45 anos.

Antes que o chacal que há em mim pudesse saltar sobre ela corrigindo: "É COMPLETO, SUA ANTA! COMPLLLLLETO!!", me contive. Fiz que sim com a cabeça e resmunguei: "Aham."

Instantes depois, levantei, peguei o sanduba e ataquei. Enquanto comia, inevitavelmente prestava atenção nas pessoas que, ao meu lado, iam pegando seus pedidos. Um rapaz que também ja pegava seu lanche perguntou: "Dona, tem guaraná?" E a Sirley: "Hm... eu vou ter Coca, Fanta, suco..." E pra crucificar a odisséia em que comer um lanche se tornara, ela disse: "E tem esplaite também."

O X-Beicom esfriou subitamente na minha boca. A primeira coisa que me veio à mente foi a lata de refrigerante. Pensei: "Será que ela não sabe ler, ou o Sprite escrito na lata só é legível pra mim?" Acho que deve ter doído até no ouvido do moço, porque mal ela terminou de dizer "esplaite" ele já pedia: "Não, pode ser Spraite mesmo". Poxa, ele pronunciou corretamente!

Apressei as mastigadas, terminei de comer e paguei logo, antes que eu ouvisse outra pérola... ja tava bom por uma tarde. Enquanto voltava pra casa, pensava nesse assunto, já com vontade de escrever pra você ler, quando pensei comigo: "Gosto de beicom e ambúrguer o lanche tinha... Mas cadê o queijo? Sim, porque se é X (cheese, tradução sonora chula, do inglês pro português) Beicom, deveria ter queijo e beicom. Talvez não tivesse queijo. Poxa, mas tinha até tomate... Mas deixa pra lá.

Depois disso cheguei a pensar em fazer uma pesquisa com donos de carrinhos de lanche com a seguinte pergunta: "Por que todos os seus lanches têm X no começo?" Mas nisso eu ja tinha me acalmado, matado a fome, e toda a irritação já não fazia sentido. Mas se eu tiver que jantar, vai ser em casa. Nada de carrinhos de lanche até o fim da semana.


--

¹ É um apelido carinhoso de infância, como me chamam em casa.

² Nos meus textos, palavras importadas do inglês serão grafadas sempre como são pronunciadas, exceto quando forem nomes ou quando for conveniente escrever na grafia original.




Originalmente postado em http://papodejornalistasdaredacao.blogspot.com/ (8/fev/2010)

O Ga(...)go

por Daniel Gutierrez


Depois de uma discussão cansativa, o cara ia falar o seguinte: "Não tem ninguém na chácara, caraio..." Só que ele gaguejava um pouco.

Aí ele disse "Não tem ninguém na chácara, cara, cara, cara, cara..." Só parou quando faltou o ar e ele caiu no chão.

O problema: ele não conseguia acabar de falar "chácara", ou tava difícil conseguir falar "caraio"? Fica eternamente a dúvida. O cara morreu.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pela intentona das Amígdalas

E o professor da oficina de produção de textos exortava à sala:
– Muito bem, meus queridos! Agora vamos botar nossas amígdalas para trabalhar!
– Mas, professor! As amígdalas não escrevem, nem declamam, nem expressam sentimento!
– Exatamente por isso! Talvez esteja na hora de elas começarem.


--

Já fui assim, fazendo até as amígdalas me inspirarem... Era uma época que eu escrevia quase sem esforço. Hah, hoje em dia, ah, como as coisas mudam...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Canto de estrada

Prólogo:
Espere por mim, morena,
Espere que eu chego já...
O amor por você, morena
Faz a saudade me apressar.



por Daniel Gutierrez



Houve estradas em que ouvi histórias
contos do bem e do mal
que me trouxeram sonhos e encontros
canção, gangorra e final

Eiras ou beiras,
cantos sem cabeça e pé
Armados até os dedos, menina
munido de amor e de fé

Como um corcel, não sem dono
mas louco em saudade a voltar
pros braços de ti, criadouro
Teu mel, teus braços: altar

E vou feito a flecha a Teresa
De gozo, de amor e de paz
Espere por mm, minha prenda
E a lua, que brilhe sagaz.


--
Esse vai ser musicado, talvez ganhe um refrão. Quando estiver pronto, gravo um vídeo e posto aqui. O prólogo, como não dispensasse comentários, é da música "Espere por mim, morena", de Gonzaguinha.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Botafogo (Queima)

por Daniel Gutierrez


A saia mais curta
o café mais preto
a barra da burca
e a barca ao relento

O talo do cravo
a pá de cimento
a moça mais bela
e o bairro mais gueto

O livro mais grosso
o jarro mais cheio
a barba do moço
o risco no meio

O quase no nada
O fardo alheio
a tal rebimboca
do engenho ao recreio

Morcego ou pardal
canino ou felino
a arara no pau
menina ou menino?

A mãe do bebê
o arco da velha
sem gana ou porquê
Veneza ou Marselha

Central ou geral
real ou banal
Carvalho ou Magal
good man or outlaw

De pano ou metal
garboso ou boçal
De pedra ou marfim
carvão, o nanquim
(Se é bom ou ruim)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Feliz segundo novo!

Pra acabar o ano -- instantes antes de entrar no carro e ir pra praia --, talvez a maioria de vocês escreveria um texto falando de renovação, vida nova, algo que tenha a ver com os temas 'ano novo', 'virada', 'retrospectiva' ou coisa assim, né? Bom, eu não sou da maioria e, modéstia a parte, o que vocês têm a ver com isso? hehe Antes de me trucidarem com pensamentos e palavras blasfêmicos, calma... é só brincadeirinha. Mas aí vai meu texto que, na minha opinião, tem tudo a ver com fim de ano.

Baseado em fatos reais
(como a maioria das minhas estórias. mas essa faz sentido comentar)

por Daniel Gutierrez


19h. Toda a família tratava de acertar os últimos detalhes para a viagem que aconteceria na primeira meia-hora do dia seguinte. Naquele momento era a hora que o vô e a vó costumavam ir pra cama, por isso a mãe bateu à porta do escritório e disse "Téo, vá dar um beijo nos seus avós. Eles já estão pra fechar a porta". Eu: "Já vou."

Os velhinhos, perto dos 80, moram na casa da frente. Ele faz radioterapia, contra a tal doença na próstata mas, apesar da carta de lamentações, decorada e declamada todos os dias a quem pare para conversar, é bem humorado toda-a-vida. Ela, o aguenta há quase 60 anos.

"Vô, vó... fiquem com Deus, viu? To indo pra praia. Tenham uma boa virada de ano." Ela: "Oh, filho... obrigado! Boa viagem, vão com Deus. Não fossem as dores do seu avô, a gente até iria..." Tudo mentira... é difícil levá-los pra casa do meu tio, que é na cidade vizinha, longe 30 quilômetros... como iriam pra praia, há mais de 400?! Ele: "Não esquece de mandar meu abraço a todo mundo lá, viu? A namorada vai?" "Vai, vô." A vó: "A mãe dela não vai?" "Não, vó. Da família dela, só vai ela."

Então o vô puxou o papo que sempre tinha, falou do que fazia pra tapear as dores e passar o tempo. Me levou até o quintal e mostrou as correntinhas, rolos de fio encapado ou não etc. Tudo era resultado de tardes que ele passava "trabalhando" em materiais que qualquer um -- inclusive ele -- trouxesse da rua. E me contou das bengalas que fez com restos de cabos de vassoura e rodinho de banheiro. A vó, sempre querendo roubar um pinguinho da atenção, interrompia nossa conversa, na maioria das vezes sem sucesso, dizendo que aquilo ia longe... e contava sempre com minha resposta: "Deixa, vó". De repente, ela pergunta: "Não vai ninguém da família da sua namorada? Nenhum irmão?" "Não, vó".

Hoje o vô repetiu a história do rapaz que o parou na farmácia pra perguntar onde ele havia comprado aquela bengala que usava. Ele: "ieu feiz...", com aquele sotaque arrastado do caipira, filho de espanhol, que cresceu num lugar colonizado por italianos. Segundo o vô, o moço achou o equipamento muito bonito e útil, já que seu pai tinha cerca de 90 anos e mal podia andar sem se apoiar. Outra vez, o patriarca narrou a boa-ação que foi pedir que o homem passasse em casa pra pegar, de graça, uma das cinco ou seis bengalas que ele fizera.

Toda vez que vou ali, na casa deles, seja pra tomar café e comer pão, ou pela simples opção de passar pela casa deles quando chego do trabalho, é sempre o mesmo papo do vô, as interrupções da vó e minha atenção gratuita, que parece ser tudo que eles têm. Todo dia.

Quando percebi a brecha, ia me despedindo. Pra ser gentil, disse "se cuidem. E o senhor, vô, não vá dar trabalho à vó, hein." Tá, eu gritei isso. Ele não ouve bem. Ele respondeu: "Hoje sua vó disse que ia me visitar." Eu, sabendo a resposta: "onde?" "No velório!... só que ieu ainda nom foi lá." E caimos os três na gargalhada. Eu completei: "olha lá, o dia já tá terminando!..." A vó: "ele não tira essas coisas da boca!" Já saindo, eu disse: "só não vá deixá-la louca!" Ele: "mais?!" Outra gargalhada, um até logo, um vá com Deus, um Deus te abençoe e dois améns.

Comigo já na porta da sala, o vô lembrou: "não vai esquecer de mandar meu abraço e feliz ano novo pra todo mundo lá, hein..." "Tá, vô. Tchau." Eu, com toda essa vida pra viver, achei interessante nessa historia que, pra eles, também é ano novo. E um ano novo já gozando com a vida e com a morte!...

Afinal, e daí? Todo dia é um novo dia, como não seria cada ano um ano novo? Passar um segundo já é um estigma de mudança, de evolução temporal, pelo menos. Por isso, vamos dar menos importância para datas definidas por convenção e, em vez disso, viver a vida, faz favor?



--

Sim, o Téo sou eu.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Gildo, o suicida arrependido

IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS


por Daniel Gutierrez


Gildo era um cara pacato: comia arroz com feijão e, quando faltava a farofa, o ovo frito servia; fazia o serviço e, bem ou mal, levava patada do chefe; dava flores e chocolate pra noiva, amava como os homens amam e, se a cor das unhas mudasse de "vermelho terra" pra "marrom argila" sem um "Que lindo" que viesse dele com ar de sinceridade, Gildo voltava pra casa sem um beijo de boa noite.

Naquele dia, Gildo acordou decidido: "Vidinha filhadaputa. Vou me matar."

Gildo era um cara quieto, mas tinha lá suas sacadas. "Vivi a vida tão certinho... me mato ainda hoje, mas quero ter razões pra ir pro inferno." Foi pro trabalho de carro e sentiu que nada mudava se, em vez de esperar, ele atravessasse o sinal vermelho às 5h20, desde que olhasse os dois lados. Abriu a firma, ligou todas as máquinas e, sozinho, trabalhou como se fosse qualquer dia. Quatro horas depois o chefe chegou e notou a luz de fora ainda acesa: "Gildo! A porra da luz tá acesa!" Ele: "Vai tomar no olho do seu cú, velho brocha, careca, muquirana!" Um breve silêncio e "clique", seu Enaldo apagou a "porra da luz". Saiu pra almoçar na hora do almoço em vez de terminar todo o serviço da manhã antes. Parou pra tomar café e água quantas vezes quis -- três pra cada -- e viu que isto não atrasou o trabalho.

No fim do dia, saiu da firma e, em vez de ir pra casa da namorada, passou na avenida, pegou uma puta que parecia ser novinha. Tirou do bolso a nota amassada de 50 reais, lançou nos peitos da moça, tirou o pinto da calça e disse: "Me faz gozar em menos de meia-hora. Não pago mais do que isto."

Com as pernas bambas, saiu dali e parou num posto. Comprou cerveja e bebeu. "Trem salgado!..." Lúcido, dirigiu um pouco mais. Parou o carro na frente da casa do ex-colega de escola, aquele que fazia questão de -- sempre -- azucrinar a vida do pobre Gildo. O portão era baixo, se via a janela da sala aberta. Na garrafa, vazia, mijou até mais da metade. Olhou a obra: "molotov de mijo... hehehe". Jogou pra dentro da casa e saiu assim que a ouviu espatifar-se.

Parou em frente a uma construção abandonada da cidade. tinha uns oito andares. Saiu do carro, entrou e subiu até onde dava. Lá do alto, parou na borda do chão. Antes de se jogar, pensou e percebeu que aquele dia valera a pena. "Como fui mané... a vida é boa, eu é que não sabia viver!" Desceu do prédio e andou até o carro. Na calçada, um nóia parou e pediu a carteira. "Vai se foder. Não tenho dinheiro."

Gildo tomou um tiro e morreu, arrependido por não ter se matado.


Moral da história?
"E a vida lá tem moral, afinal?"

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A vida é uma rodovia

por Daniel Gutierrez

Não é a toa que a maioria dos historiadores define a história em linhas do tempo. Nossa vida, que encerra toda uma história, pode ser também estirada assim... Afinal, tem começo, meio e fim, né? Tá certo, às vezes são vários começos, vários fins... Ora, bem como as estradas!

Pensa só: uma rodovia que segue seu caminho, de repente chega num trevo... dali surge uma outra estrada, que segue um outro caminho, com outras curvas, outros buracos, outras paradas... Assim é nossa vida: surge de outra vida (dos nossos pais), segue seus caminhos, tem seus problemas, suas mudanças... E viver, então, é guiar por esta estrada.

Há momentos da vida, em que a estrada faz curvas. O engraçado é que, na maioria destas “viradas”, a gente nem queria mudar de direção. Mas muda! E ai de nós, se não mudamos... Sair do asfalto é um perigo: a gente pode capotar e voltar pra estrada vai ser muito difícil. Nesses momentos de curva, diminuir a velocidade é interessante, porque aumenta a nossa estabilidade. E tem aqueles buracos chatos também... pra desviar – sem acabar com a suspensão – é preciso reduzir a velocidade, mais uma vez. Tem uns que mais parecem crateras: o negócio é parar e passar bem devagar por cima, ou fazer o contorno por fora. É chato, mas se a gente não faz assim, acaba parado no meio do caminho. E assim não pode ficar...

Tem horas que a estrada é duplicada e fica tranqüilo a gente andar... tem horas que ela afina, porque passa numa ponte, sobre um rio, riacho ou ribeirão. Tem uns pontos tão destruídos, que a saída é reformar mesmo... Aí, a companhia de rodagem, que cuida das rodovias, vai encher o trajeto de cones, máquinas, gente trabalhando pra melhorar a situação. Aí, tem horas que o asfalto simplesmente some e sobra aquele terreiro, sem conserto, e você tem que seguir. Vai deslizar? Vai. Vai sujar tudo? Oh, se vai. Mas segue, porque lá na frente o asfalto volta, a sinalização melhora e aí... ah, tudo vai bem.

Uma coisa legal sobre estradas é que elas sempre nos levam a algum lugar (mesmo que esse lugar seja “lugar nenhum”). Algumas passam por dentro de povoados, cidades, metrópoles, ou simples postos de beira de estrada. Outras passam por fora. O que muda nossa experiência vital nestas estradas? Ora, a intensidade com a qual você experimenta cada local: em alguns, o envolvimento é tão grande que a gente acaba parando pra curtir melhor o lugar. Mesmo que seja um simples posto de beira de estrada.

Em um determinado momento, vai sair de nós um braço de caminho, ou então vamos cruzar outras estradas, que podem gerar outras rodovias, grandes, pequenas, retas, sinuosas, largas, estreitas, tapetões, buraqueiras... São as outras vidas que geramos, ou que participam das nossas vidas: pais, irmãos, filhos, outros familiares, amigos... O importante é seguirmos nossa estrada, que um dia vai acabar, isso é fato. Mas até lá tem tanto asfalto...


Não costumo escrever autoajuda. Mas vai que preciso disso pra viver um dia...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Respeitável frota!...

por Daniel Gutierrez

“Vai, que fechou,” exclama o mais alto. E corre pro meio da faixa de pedestres. O outro, logo atrás, junta os pinos e o monociclo – que beira um metro e meio de altura, do selim à extremidade da roda. Corre, sobe no negócio com destreza... menos de um segundo e já está equilibrado. Os malabares começam a girar no ar: são três pra cada. Primeiro, os meninos jogam as claves para o alto, sem trocar. Depois, com ar de provocação, como quem quisesse atrapalhar o outro, um deles lança um pino entre os do parceiro, que devolve um dos seus. O ato é repetido, sem que os espectadores demonstrem cansaço. Por fim, os dois pegam as seis claves, levantam os braços, o que estava no monociclo pousa no chão como pluma. Hora do agradecimento, sem aplausos. Todo esse espetáculo dura meio minuto e tem apenas um holofote: a luz vermelha do semáforo.

Assim que acaba o show, a platéia se retira, mas não sai por onde entrou: invade e atravessa o picadeiro, que não tem lona, nem cortinas – tem asfalto e faixas no chão. A paga é boa? “Nada... um ou outro motorista joga uma moeda pela janela enquanto a gente tá brincando. No fim do dia, a gente tem uns trocados”, conta Sil, o menor. “Mas dá pra viver”, retruca o outro. “É. Dá.”

Da calçada, vê-se dois artistas mostrando suas habilidades – espetáculo digno de estar em cartaz nestes gran-circos que a gente vê por aí. Quem assiste? Os olhos frios, acesos nos faróis de cada veículo. Os rapazes entram, dão show, saem... mas a expressão é sempre a mesma: Gols, Corsas, Unos e tantos outros apreciam, não a arte no sinal, mas a mágica bicromática do semáforo.

“Esse povo que vive e trabalha em circo não passa os dias melhor que a gente, não,” garante Sil. “A gente é livre. Só muda de esquina quando o movimento muda de lugar.” Para o mais alto, o circo de rua só inverteu a ordem das coisas: “Lá, eles esperam a cortina abrir. Aqui, a gente espera o sinal fechar.”


Publicado no Jornal do Ônibus de Ribeirão Preto, na edição de novembro de 2010.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Qual sua opinião sobre neoliberalismo?

Depende. Numa sociedade que precisa crescer, ou numa sociedade que está em decadência?

Pergunta logo, não enrola.

Que é o mistério da fé, pra você?

Vamos lá: "O Mistério da Fé" é o próprio Cristo, Deus que se faz homem, fazer-se pão, tornar-se refeição e, assim, objeto de comunhão fraterna entre os homens. Isso é, catolicamente falando, claro. Mas posso definir que a fé, como mistério, é a força que faz a humanidade crer em algo a ponto de depositar a própria vida nisto.

Pergunta logo, não enrola.

Numa redação: cogito ou poiesis?

Cada jornalista vai responder uma coisa. Eu diria exatamente nessa órdem: cogito + poiesis. Jornalismo é reportar a verdade (que o jornalista vê), mas alguns recursos literários permitem escrever com uma liberdade maior (em termos de criação), sem deixar de dar a notícia.

Pergunta logo, não enrola.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Da série "esporros políticos" - no. 1

por Daniel Gutierrez

Recebi um e-mail daqueles que falavam punham Dilma Rousseff como terrorista. Aquelas cartas de conspiração tucanista, apelando pra meias verdades, textos quase pró-ditadura. Um saco!

Galerinha, fique bem claro: não sou petista, nem dilmista. Apóio o governo Lula, em comparação com o governo FHC. Minha escola política começou vermelha, sempre fui a favor do Comunismo, hoje sou Socialista, bem mais realista e racional. Hoje, minha bandeira é verde, sou filiado ao PV e apóio a candidatura de Marina Silva.

Acontece que já não é a primeira vez que recebo um e-mail destes... mas hoje, cansado de tanto receber essas correntes -- na minha opinião, burras -- decidi responder ao meu remetente, com todo o respeito. E abaixo segue meu texto:

--

É interessante saber também que os homens que "serviam à patria" naquela época, serviam à ditadura que suprimia a liberdade e reprimia o povo. Vale lembrar também que José Dirceu não está mais no poder desde as atrocidades do mensalão. Tarso Genro é também um zero à esquerda. E eu não sou dilmista, nem petista.

Os pró-ditadura que hoje usam o número 45 pra voltar ao poder do país parecem preferir o Brasil como era naquela época: servindo apenas à roda alta da sociedade, sob o uso da repressão e da violência contra as classes menos favorecidas.

Pra conhecer os verdadeiros governos ditatoriais ainda presentes no país, busque saber os meios que os governantes do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pará, etc. usam pra manter o controle em seus Estados: capangas, grileiros, leões-de-chácara, matadores. Lembra do caso da irmã Dorothy Stang, freira missionária que morreu assassinada em Anapu, no Pará, por defender os direitos das minorias e do meio-ambiente.

É fácil ceder a conspirações bem tramadas. O difícil é ser desconfiado das asneiras que escrevem pra continuar enganando o povo. Mas a culpa é do próprio povo, que se deixa enganar pela simples preguiça que tem de correr atrás das verdades reais. Daí acaba aceitando as verdades maquiadas, montadas diabolicamente pra que o poder volte a servir quem não precisa dele.

--

Pronto, falei. hehe

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Passárgada, quiçá pras férias!

por Daniel Gutierrez


Fui-me embora pra Passárgada, primeiro porque falaram que lá era uma terra com palmeiras onde cantava o sabiá. Como não bastasse, me convenceram que as aves que aqui gorgeiam, ih rapaz... não gorgeiam como lá, nem de perto. Aí, como eu tava de saco cheio desse mundinho aqui, deu na telha: vou conhecer Passárgada.

Quando cheguei -- olha o baque -- vi que lá tudo era assim: dentista banguela, coiffeur careca, nutricionista obeso, adolescente velho, enfim. Era tudo muito louco, tudo ao contrário... Bom, nem vou comentar os políticos do lugar... Não tinha UM sequer que fosse corrupto.

Ah, bicho... pensei comigo: tá tudo muito errado! Juntei as trouxas e deu na telha de novo: olha eu cá de volta. Passárgada, enfim, não era pra mim.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Carneficina

por Daniel Gutierrez

As manchas de sangue dominavam cada greta, cada canto, cada rachadura das paredes, do chão, e daquela mesa -- imunda, com lascas de carne, osso e gordura. O aspécto mórbido do salão era completado pela essência fétida de carne morta, fresca. Do silêncio que emanava dali, não se podia partilhar da dor que resultara dos golpes de machado e marreta que mataram tudo que ali estava morto.

Das duas passagens que havia na sala, uma estava cerrada e tinha uma portinhola vazada. Da outra, se via sair certa fumaça, de tão frio que era o ambiente além dali. Interrompe este vapor um homem: imenso, pálido, de barba cerrada, não menos que a porta. Numa mão, uma carcaça, empunhada pelo osso... talvez um fêmur, quem sabe...? Na outra mão, 50 centímetros de lámina, reluzindo no corte de tão afiada.

De um só movimento, jogou o pedaço de cadáver na bancada, ainda suja. De um só golpe, cortou com o cutelo uma farta porção daquela carne. Tinha na face um olhar de prazer, como quem bem cumprisse seu trabalho.


Lá de fora, um grito irrompeu aquele silêncio... e pôs ao chão a macabreza de todo o conto:

"Oh, seu açougueiro! Se for de porco, quero três bifes desse pernil!"


Vale lembrar que não sou vegetariano. Os motivos deste continho são: brincar com nossas capacidades de percepção, além de levantar um autoquestionamento sobre o modo, muitas vezes indigno, com o qual tratamos os animais que usamos pra nossa própria sobrevivência. Se, com você, consegui cumprir só um desses dois intuitos, estou feliz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

De passagem

por Daniel Gutierrez


Naquele momento, bêbado de tédio, abri um olho com dificuldade e vi a Vida passando. Lenta. Quase parada. Com tudo que é força que consegui juntar, perguntei:

"Você ainda demora muito pra acabar?"

A Vida, com ternura no olhar:

"Volta a dormir. Eu ainda nem vesti as luvas!"

terça-feira, 29 de junho de 2010

Ao Brasil dos brasileiros

por Daniel Gutierrez

Anda, Brasil!
Anda que tens sorte!
Corre, Brasil!
Corre a fugir da morte!

Apressa-te, Mãe!
Esconde o que o Pai te deixou
Do mundo Mãe...
Vê que Padrasto te restou...

Ó vasto mundo...
Vasta é a nossa beleza!
Basta com tudo!
Inútil com tanta tristeza!

Parabéns pra você,
nesta data esquecida.
Muitos quens são quem fazem
uma Pátria caída.

Em esperança me baseio
Algo heróico hei de fazer!:
"Que eu veja o País livre
tempo antes de eu morrer!"


Escrito em 5/9/2003, quando eu era o número 33 do 1º colegial I, na E.E. Constante Ometto. Nacionalista, desde cedo e graças a Deus! No original, o nome do poema era "Brasil Independente?"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Virose

por Daniel Gutierrez

Então a família descobre que o rapaz havia contraído AIDS e precisava tomar os coquetéis e todos aqueles cuidados. Para todos, o baque era o mesmo: um choque! Ninguém entendia, não sabiam direito o que era a doença.

O irmão mais velho tentava não pegar o mal: escondia toalhas, separava os talheres, mantinha os próprios copos, pentes e tudo mais.

A mãe lavara as roupas de cama, secara. O pai se incumbiu de vestir os colchões, mas trocou as fronhas: pôs a do mais novo no travesseiro do mais velho.

O mais velho viu a falha e ralhou com o pai.

O mais novo ouviu o barulho a tempo de protestar: "Ei! Eu tenho AIDS! Não resfriado..."

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A prima da debutante (ou 16)

por Daniel Gutierrez

Era um par de pernas
brancas, finas.
Bom, o que se via era tudo
que havia entre a boca
do sapato (vermelho) e a barra da saia (preta):
tornozelos, canelas, joelhos.
Mas eram lindas
aquelas pernas...
Perfeitas.

A clínica crítica ocular me forçou:
isso é tudo? pernas puras,
perfeitas?
Antes do fim desta auto-indagação
meus olhos procuravam o que ver.

Parou num parêntesis
na outra ponta da saia: a de cima.
O conteúdo daquela observação
era hipnótico.
Na linha de cima,
o ventre era parcialmente visível:
uma fartura – modesta,
mas satisfatória –
moldava a frente de uma cintura
jovem.
Aquela imagem me levou a pensar
no crime que estava prestes a cometer.
(breve instante de razão, que reluziu pouco)
Ainda estupefato com aquele olho
chamado umbigo
me encarando, de lá pra ca
– Naja, Meduza... Maldita!,
sinto o gelo do olhar dos olhos de cima, verdes
que me perceberam contemplando
aquele ventre jovial.

O rosto era fino, claro, inocente,
(Capaz!)
o cabelo liso, solto, preto
Eu, estático.
Ela, uma onça vindo buscar a presa.

Perto,
ela dançava. Eu, não.
Mais perto,
sussurrou: “16”. E mordiscou-me o rosto.

Mas foram só segundos.

Horas depois, lençóis (róseos)
faziam a vez daquela saia (preta).
E, já sem os sapatos,
(As unhas eram laranja.)
aquele par de pernas me era um laço.

E a prima da debutante
fora a mulher pra noite inteira.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um facto sobre o fato

por Daniel Gutierrez

Tem horas que a gente trupica no próprio costume, nos dois sentidos dessa última palavra. O evento da noite era o "Prosa de Saberes", com o Embaixador Lauro Moreira, diplomata chefe da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa no Brasil. E eu fiquei incumbido de cobrir o evento para a rádio Eldorado, aqui de Ribeirão, onde trabalho. Bom, o evento estava marcado pra ser no Instituto de Línguas Estrangeiras da Unaerp, onde estudo.

Como não podia deixar de ser, o palestrante destacou no evento algumas peculiaridades e diferenças de uma mesma língua nestes quase dez países lusófonos. Daí que aprendi que, em Portugal, o que pra nós é fato (indispensável ao jornalista, pois é de onde se compõe a notícia), para eles é facto. O que para eles é fato, para nós é roupa, costume, vestimenta. Todo este enrolabolas, eu fiz para poder trocadilhar o seguinte, em Português português: o facto é que meu fato foi mal pensado.

Errei a roupa, bolas! Era um bando de pseudo-intelectuais ouvindo um verdadeiro intelectual, mediado pelo meu colega e amigo Marco Antonio dos Santos, e este jornalista cabeludo, barbudo, chega ao local de camiseta, bermuda e chinelo. É. Eu fui cobrir um evento assim. E claro, com o gravador, o bloquinho e a caneta em mãos. Esqueci que ia trabalhar antes da aula... Me vesti como costumo ir para estudar! E deu no que deu.

As organizadoras do evento, senhoras (madames, peruas, chame como quiser) do curso de letras, TODAS me olharam de cima abaixo, e perguntaram o que eu fazia ali. Eu, mostrando o gravador, respondi, todas as vezes: “sou Daniel Gutierrez, da Rádio Eldorado daqui de Ribeirão. Vim cobrir o evento.”

Ouvi pacientemente o Seo Lauro falar -- muito sabiamente, e por quase duas horas -- da história dos países lusófonos, desde Portugal até o Timor Leste, passando por Brasil, Moçambique e todos os outros. No fim, fui tentar pegar com ele um horário pra conversarmos ao vivo na rádio. À senhora loura (pálida) de vestido longo, coordenadora do curso de Letras da Unaerp, pedi licença. O mesmo fiz com Fatu, coordenadora do evento, se não me engano, ou algo assim, e com um senhor alto, negro (lembrava o Seal, sem as cicatrizes no rosto), de voz grave, terno preto de risca de giz, que acompanhava atentamente a tal da “prosa.”

Fui falar com Seo Lauro, que ainda sentado, me acolheu com educação, requinte e cordialidade ímpares, apesar dos meus incorretos cabelo, barba e vestuário. Peguei seus telefones e prometi ligar na semana seguinte pra conversarmos ao vivo na rádio (ele estava de mudança para Ribeirão, e o caminhão sequer havia descarregado seus bens naquele momento).

Ali eu entendi a diferença entre quem sabe e quem não sabe das coisas: eu buscava conhecimento. Nu ou vestido, não importava, ora pois. Afinal, quem queria saber era eu. Não meu fato.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

C

por Daniel Gutierrez

Cães castrados comem coco no chão.
Como coubesse, caras chatos cruzam a cela
clara... centenária.

O canto, cálido, começa a ceder.
Cai cocô no colo de Cesar...
Credo em cruz! Cada coisa...!

Crescem cedros cascudos e contorcidos;
Culminam cidras... cem cementes cravadas,
corretamente criadas.
Certamente, çairam de casa çanta.

Chove, o céu ta cinza e o clima é cool.
Ce não focem tantos cês,
ceriam também deste texto
cama, colcha e colchão. e çono.

Buonna cera.

terça-feira, 9 de março de 2010

Apelo pela boa lembrança

Por Daniel Gutierrez

Lembrem-me, senhoras e senhores
de sorrir mais.
O dejejum com sabor de sorriso
é mais bom dia.
É melhor o dia
se o amanhecer é um beijo.
E melhora o beijo
se o desejo não falta.

Lembrem-me, senhoras e senhores
de ser mais gente.
Que o urgente é ser feliz.
E que o gris é sempre gris
se eu não deixar o cinza ser azul.

mas Lembrem-me, senhoras e senhores
que o hoje já se foi.
Mismo que se pase hoy
lo que se haya deseado por toda la vida.

Convém querer, querida,
que o amanhã demore,
pois o agora
devora.

e Lembrem-me, por fim, senhoras e senhores
que esquecer é preciso.
Mesmo que seja o sorriso
da manhã.
E que a falta dos dentes
reluzindo à mostra noutra boca feliz
se nos torne um chamariz
a sorrir outra vez.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A irmandade dos periquitos

Por Daniel Gutierrez

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E a Natureza não se cansa de nos dar lições de vida que são, na verdade verdadeiros tapas na cara.

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Eu chegava na Rádio hoje, às 6h50, e presenciei uma atitude que me fez respirar fundo e pensar com a inocência de um menino. 20 anos depois. Com um paco de jornais na mão, ouvi a gritaria de um bando de maritacas ou maracanãs, não sei, muito comuns aqui pelos lados da Unaerp. Elas voavam juntas, na mesma direção, fazendo revoada. Era como se montassem uma núvem. Percebi que atacavam algo.

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Depois disso, notei um gavião, bem maior que os periquitos, fugindo das investidas das dezenas a grasnar. Pensei, olhando pro alto feito um mané: quando esses pequenos estão ameaçados ou com medo, se juntam e lutam contra o predador. Quantos de nós, se presenciamos um roubo ou assalto, por exemplo, não viramos as costas e fingimos não ter visto?

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Tá faltando mesmo é a fraternidade dos periquitos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Celebrando

por Daniel Gutierrez

Um cara legal, colega de sala na faculdade, conhecido há menos de um ano e aparentemente sem vícios descansava sob a sombra de uma árvore. De repente, ele tira do bolso da camisa um charuto. Em seguida, um isqueiro. Bota o 'cigarro' (em espanhol) na boca e acende.

Eu, que passava por perto, estranhando, cumprimentei.

"João! Bom dia!"

Ele respondeu.

"Bom dia, Bob."

Eu, ciente de que nunca o vira fumando, puxei assunto.

"Não sabia que você fumava. Pelo menos, nunca tinha visto..."

Ele: "E não fumo!"

Eu, já rindo: "Ah, não? E esse charuto faz o quê na sua boca? É pra espantar o Aedes Aegypti?"

Ele, tão piadista quanto eu: "¬¬."

Prosseguiu: "Esse charuto é um hábito que cultivo, Bob. É só pra ocasiões especiais."

Eu, curioso e festivo: "Hm. O que celebramos?"

João: "Faz um ano que parei de fumar."

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Faltou luz em RP? É tudo (ou quase) culpa de um galho

por Daniel Gutierrez


CPFL culpa árvores pelas frequentes quedas de energia elétrica, mas admite que rede está desatualizada e promete melhoria, embora sem previsão.


Sai ano, entra ano, e os moradores das regiões Leste e Sudeste de Ribeirão Preto continuam sofrendo com um problema recorrente. Estamos falando da falta de energia elétrica que – basta armar tempo de chuva – surpreende a comunidade. Principalmente se o vento vier junto. A verdade é que, já em 2010, o contribuinte ainda corre riscos de perder equipamentos eletrônicos em razão do pisca-pisca e passar a noite à luz de velas, por necessidade, não por opção. Uma das razões para a ineficiência da rede elétrica é tão resolvível quanto indispensável na cidade. De acordo com a Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL, responsável pela alimentação de energia elétrica na cidade, é por causa de algumas árvores que “acaba a força”.

Luis Carlos Valli, gerente da CPFL Regional de Ribeirão Preto explica que a arborização inadequada é uma das principais razões para os cortes de energia elétrica quando venta. “Quando ocorrem temporais, não só nesses bairros, mas na cidade toda, 90% das faltas de energia é por arborização, que toca na rede e acaba desligando o circuito.” Segundo ele, acontece o mesmo que nas residências, quando ocorre curto-circuito: para não haver maiores danos, o disjuntor derruba a corrente elétrica, por segurança. “Quando um raio, outdoor ou árvore atinge ou rompe um cabo, ele tem que cair no chão desligado.”

Neste caso, Ribeirão Preto possui árvores demais? Não, e o próprio gerente da Companhia endossa essa visão. Ele diz que a cidade precisa de mais verde. O problema, segundo ele, é que muitas árvores são plantadas inadequadamente. “Para plantio sob a rede de energia, são mudas que crescem no máximo 4m de altura. Estas não vão dar problema na rede, porque não chegam a tocá-la, e também não atingem as tubulações de água e esgoto, porque suas raízes não são tão profundas.”

Segundo Valli, a CPFL trabalha numa campanha ao mesmo tempo ambiental e de diminuição dos problemas com a energia elétrica: “Nós já doamos à Prefeitura Municipal de RP aproximadamente 8 mil mudas, e vamos continuar doando árvores adequadas para serem plantadas sob a rede.” Ele afirma que apenas plantar árvores corretamente ajuda, mas a poda das que foram plantadas incorretamente também é indispensável: “Já podamos mais de 40 mil árvores em Ribeirão Preto.”

Agora, as árvores que são nativas, ou seja, estavam lá antes de chegar a rede elétrica, ou até mesmo as que foram plantadas incorretamente e ainda não estão condenadas pela segurança pública, por lei ambiental não podem ser cortadas, isto é, desmatadas. E como o próprio gerente afirma, o serviço de poda precisa ser refeito de tempos em tempos, porque a árvore podada continua ali e outros galhos crescem, atingindo novamente a rede elétrica. Assim, o retrabalho acaba acontecendo, o que gera, além de gastos, a certeza de que o problema não foi resolvido permanentemente. É certo que é por segurança que a eletricidade é automaticamente cortada, mas a população dos bairros atingidos também não pode ficar sem energia a qualquer vento que sopre um galho na rede. Haveria então uma maneira de prevenir que houvesse os cortes de luz enquanto a situação das árvores não é permanentemente regularizada?

Segundo Luis Carlos Valli, sim. E esta solução tem um nome: rede compacta. “A gente tira aquela rede comum que se tem hoje – que são os fios nus – e coloca uma rede com os fios protegidos.” Estes cabos seriam mais imunes aos impactos sofridos durante ventanias e diminuiriam significativamente a quantidade de cortes momentâneos de luz, em comparação com o que se tem atualmente. Valli ainda afirma que a CPFL deve “agora, no início do ano, trocar todo o [cabeamento do] quadrilátero central da cidade.” Segundo ele, as redes novas de Ribeirão já são feitas com este tipo de cabos, mas 90% da cidade, inclusive as regiões Leste e Sudeste, ainda usa cabos nus – “a gente vai substituindo isto gradativamente”. O gerente da CPFL não possui uma previsão de quanto tempo deve levar até que a cidade tenha toda a rede atualizada.

Subestação Leão XIII dá conta, mas vai receber reforço

A Subestação Leão XIII, que fica na avenida de mesmo nome, no bairro Ribeirânia, foi reformada em 2003 e, desde então, tem potência de 51 megawatts, com capacidade para chegar a 80, conforme disse Luis Valli. Para ajudar a entender, 50 megawatts é potência suficiente para atender, em média, uma população 50 mil habitantes. O gerente afirma que entre fevereiro e março deste ano, deve ser instalada uma nova subestação no final da Avenida Professor João Fiúza, que deve auxiliar bairros das regiões Sul e Sudeste. “Vai até dar uma melhorada na qualidade da energia, (...) mas quanto à falta de energia ou ‘pisca’, recorrente de impactos na rede, não”, conclui Luis Carlos Valli, gerente da CPFL Regional de Ribeirão Preto.

Este texto será publicado na próxima edição do Jornal da Região Sudeste, que circula na região Sudeste (ah, vá!?) de Ribeirão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um dia, um adeus

Dei de cantar agora, vê se pode...

http://www.youtube.com/watch?v=YLAvZ8mXHMc

Música de Guilherme Arantes.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Conclusões após um bate-papo com o Gui

Inteligência = fruto de uma mente limitada; [porque o indivíduo pensa em apenas um canal, ou seja, é capaz de organizar sua mente em um único canal, ou ainda, raciocina linearmente]

Genialidade = fruto de uma mente ilimitada, mas que prefere admitir limites, simplesmente para não ser insana; [porque o indivíduo consegue pensar em mais de um canal -- dois ou mais -- e depois organiza o(s) objeto(s) pensado(s) em (relativa) linearidade. Eu (inadvertidamente) chamaria de uma "Paranóia Controlável"]

Insanidade = fruto de uma mente ilimitada. [porque o indivíduo pensa em mais de um canal mas, devido à incapacidade de limitar seu(s) objeto(s) pensado(s), não consegue também organizá-lo(s). A isto eu nomearia "Paranóia Incontrolável"]


Admito (espero por) sua correção, [doutor] Gui. Aliás, to suprimindo uma vontade latente de te pedir pra escrever um ensaio sobre este minuto filosófico.


Aos meus leitores, perdão.
Quebrei a promessa sobre o texto discutindo a privacidade.
Mas este está por vir.
Aguardem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

2º post!??! oO'

Caramba... Tá sendo mais fácil que eu imaginava.

Bom, deixo aqui uma [boa~] composição.
É. Eu sou novo aqui.

Meu Mundo É O Barro
O Rappa

Moço, peço licença
Eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem passe, eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem classe, eu sou novo aqui

Eu tenho fé
Que um dia vai ouvir falar de um cara que era só um Zé
Não é noticiário de jornal, não é
Não é noticiário de jornal, não é

Sou quase um cara
Não tenho cor, nem padrinho
Nasci no mundo, sou sozinho
Não tenho pressa, não tenho plano, não tenho dono

Tentei ser crente
Mas, meu Cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz

E eu voltei pro mundo aqui embaixo
Minha vida corre plana
Comecei errado, mas hoje eu tô ciente
Tô tentando se possível zerar do começo e repetir o play

Não me escoro em outro e nem cachaça
O que fiz tinha muita procedência
Eu me seguro em minha palavra
Em minha mão, em minha lavra

Caraca! Criei um blogue!

-- Eita, Cabelo! Cê criou um blogue!!

Poxa, eu queria ter feito um título só com palavras iniciadas por C. Mas blogue começa com B. Já pensou se em vez de blogue fosse "caralho"? O título seria: "Caraca! Criei um caralho!" Ia soar bem estranho, né... Pelo menos as interjeições ficariam engraçadas: "Blogue! Essa prova de Semiótica tá mais difícil que fazer arroz!" Viu, que simpático?

Bom galera, o negócio é o seguinte: criei essa pohinha aqui, não sei se vou usar, se usar, não garanto que tenha alguma frequência... Só garanto que fiquei com uma vontade muito pungente de abrir um blogue. E como na internet 'cudebebonuntendon', vim e criei esse aqui mesmo.

Quem sabe, afinal...? Talvez saia algo legal daqui. Vale a pena esperar pra ver, né mesmo?

Bom, é isso. [E quando eu estiver em casa, atualiso essa template e meus dados. É que nos PCs do Lecograf na UNAERP não dá pra fazer muita coisa. Talvez nos MACs dê, mas to com preguiça pra mudar de máquina, falou?!]

E ó...
FUI!